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Em um empenho acelerado quase tardio, empresas se reuniram pra reaquecer a marca Naruto no Brasil neste primeiro semestre de 2015, tentando também recuperar os anos perdidos com a ausência da exibição na TV brasileira.

Um dos ápices desse investimento veio por meio da PlayArte, que com o apoio e interesse da Bandai Namco e outras companhias, colocou pela primeira vez nos cinemas nacionais um longa-metragem da franquia. Foi escolhida a última produção, The Last Naruto – O Filme, que estreou em salas por quase todo o país.

Os números da primeira semana não foram nada animadores. Segundo dados do site AdoroCinema, The Last levou 32.789 pessoas nos primeiros dias que sucederam a estreia (no dia 28 de maio), deixando o título em sétimo lugar no ranking de bilheteria. Na semana seguinte, com número ainda menor de salas, resultado do baque inicial que afugentou as redes, o filme trouxe mais 15.116 e fechou com 64.573 bilhetes. Com exibições bastante restritas na 3ª semana, The Last saiu das contabilizações e consequentemente saiu de cartaz prematuramente.

Apesar de desanimadores, esses números foram superiores a outro “fracasso” da PlayArte anos atrás: Os Cavaleiros do Zodíaco: O Filme – Prólogo do Céu. O longa da trupe do Seiya levou 31.773 pessoas no fim de semana de estreia, em novembro de 2006 e fechou com 52.000 pessoas em três semanas (até onde foi contabilizado).

Veja bem, é bom mantermos as aspas quando nos referimos a um fracasso comercial no caso de Naruto, pois não sabemos qual era a real expectativa da PlayArte. Fato é que o novo filme distribuído pela empresa, Jessabelle (do gênero terror), estreou com 63.117 bilhetes, quase o dobro do filme do ninja.

Alguns fãs podem jogar a culpa na presença massiva de cópias dubladas (era difícil ver uma cópia legendada em cinemas que não fossem do próprio Grupo PlayArte). Desista dessa ideia: uma porcentagem esmagadora dos espectadores de cinema preferem o áudio dublado, ter mais cópias legendadas era de risco ainda maior para os exibidores. O buraco é mais embaixo e podemos tentar enumerar alguns fatores.

1. Não adianta, a realidade do Brasil é completamente diferente da japonesa. Desenho ainda é visto essencialmente como produto destinado a crianças e não é uma classificação indicativa que muda isso. Está aí um fator que pode ser jogado como contribuinte para a bilheteria ruim, pois enxergado como filme para crianças, The Last recebeu mais sessões em horários da tarde (principalmente na segunda semana), dificultando o acesso dos fãs.

2. Some os horários ruins a uma exposição deficiente da marca. Mais uma vez, esqueça o mundo onde a internet é o principal meio de assistir a série. De fato, a maior parcela de fãs acompanha Naruto por esse meio, mas a TV ainda representa uma fatia avassaladora da exposição e os anos em que o anime ficou de fora da grade prejudicaram demais. Valeu o esforço de dublar Shippuden pra serviços de streaming e TV paga, super bem-vindo, mas se a exibição fosse em um Bom Dia e Cia da vida, mesmo retalhada, renderia mais (imagina um filme desse na época em que a série rendia picos de 1º lugar no SBT?).

3. O filme se situa em um momento muito avançado da história, o espectador comum (aquele que se deparou com a série nos meios supracitados) não teve tempo de mergulhar na trama para poder aproveitar o que se via ali.

4. E um pouco menos importante, a demora. The Last foi lançado em dezembro de 2014, mas só deu as caras aqui em maio, com medo de enfrentar os blockbusters da vida. O fã da internet (que vale frisar, representa uma parcela pequena frente ao público comum) baixa o filme mesmo sabendo que haverá uma estreia oficial em moldes inéditos no país. Com Prólogo do Céu isso tinha sido pior, já que o longa é de fevereiro de 2004, demorando mais de dois anos para chegar aqui.

Por fim, Naruto é um titã colossal do entretenimento, mas dentro de um nicho. Um nicho bastante complicado que se autoprejudica torcendo o nariz pra qualquer ação que tente popularizar a marca (como a própria dublagem). Não queiram comparar com os sucessos recentes de Cavaleiros ou Dragon Ball Z por aqui, pois a legião de fãs dessas franquias teve a felicidade de nascer em um momento diferente, onde não havia chilique pra saber quem ia fazer a voz de quem, como golpe “x” seria traduzido ou se iria ser modinha entre pirralhos.

Obrigado PlayArte, quem sabe na próxima?

Obs.: O número de salas e horários em que o filme é exibido depende do interesse do exibidor. O distribuidor pode insistir e fazer malabarismos para “vender seu peixe”, mas é a rede de cinema da sua cidade quem decide.

Fonte dos números: CavZodíaco (1), CavZodíaco (2) e AdoroCinema