A trajetória completa de 65 anos dos filmes de ‘Godzilla’ no Brasil

Finalmente! Com a chegada de Godzilla Minus One ao Brasil, se encerra uma sina maldita. Você sabia que desde 1976, ou seja, há mais de 45 anos, não tínhamos um filme japonês de Godzilla nos cinemas comerciais brasileiros? E que a história do monstrão com o público do Brasil já tem mais de 65 anos?

Nesse artigo vamos elencar todos os filmes do Rei dos Monstros exibidos nos cinemas brasileiros, desde os anos 1950 até o final dos anos 1970. Além disso, todos os filmes que foram exibidos na TV e os lançados em VHS/DVD.  Várias dessas exibições ficaram esquecidas pelo público por muitos anos, ou mesmo desconhecidas pela nova geração. Trazer essas informações à tona pode auxiliar para que dados distorcidos parem de circular.

Prólogo: Monstros gigantes de outros lugares

É importante frisar que Godzilla foi o primeiro filme de monstro gigante japonês exibido nos cinemas do Brasil, mas não foi o primeiro gigante monstruoso a aportar por aqui. Antes dele, ocorreram as seguintes exibições:

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• King Kong, o filme de 1933, foi exibido no Brasil em junho de 1943, com 10 anos de atraso. Aqui, você pode conferir uma resenha maravilhosa com a linguagem rebuscada da época, quando do lançamento do filme no exterior (Diário de Notícias, 23 de abril de 1933).

• Monstro de um Mundo Perdido (Mighty Joe), exibido no Brasil em 1950.

• O Monstro do Mar (The Beast of 20.000 Fathoms), exibido no Brasil em maio de 1954. Anos mais tarde foi exibido de forma dublada pela TV Globo, nos anos 1970.

Décadas de 1950 e 1960

O primeiro filme de Godzilla, produzido em 1954, e adaptado posteriormente pelos americanos, foi exibido pela primeira vez no Brasil em janeiro de 1958, sob a alcunha de Godzila – O Monstro do Mar. Portanto, o primeiro tokusatsu a ser exibido no Brasil. É interessante ver esse paralelo com o nome utilizado por The Beast of 20.000 Fathoms quatro anos antes, talvez tentando pegar carona no sucesso dos americanos. Godzila era grafado assim mesmo, com apenas um L. A versão exibida foi dublada em inglês e exibida com legendas.

Já o segundo filme, Gojira no Gyakushu, produzido em 1955, e também adaptado posteriormente pelos americanos, foi exibido pela primeira vez no Brasil em janeiro de 1961, com o nome de Gigantis – O Monstro de Fogo. Na versão internacional, era chamado de Godzilla Raids Again. Da mesma forma que o primeiro filme, foi exibido com som dublado em inglês com legendas. Em 15 de agosto de 1973, a Rede Globo exibiu esse filme na sua programação já com outro nome, apenas O Monstro de Fogo, e finalmente dublado em português.

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King Kong x Godzilla, o terceiro filme, foi exibido nos cinemas dos anos 1960 em cópias dubladas em inglês com legendas em português. Na TV Record, em 11 de dezembro de 1982, em sua versão dublada em português. Também foi exibido na TV Pampa (Porto Alegre), no mesmo ano. 

Godzilla contra a Ilha Sagrada (Mosura tai Gojira), o quarto filme, foi exibido nos cinemas brasileiros em 1968 em cópias dubladas em inglês com legendas em português. Também foi exibido pela TV Tupi, dublado em português, em 27 de julho de 1974.

Produzido em 1964, San Daikaiju: Chikyu Saidai no Kessen, chamado no Brasil de Ghidrah – O Monstro Tricéfalo, chegou aos cinemas nacionais em 27 de fevereiro de 1967, em versão legendada.

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Ainda em 1967, em outubro chegaria ao Brasil A Guerra dos Monstros, nome nacional de Kaiju Daisenso, o sexto filme do monstro, também legendado.

Divulgação do filme A Guerra dos Monstros. | Imagem: Reprodução

Um ano depois, em setembro de 1968, aporta nos cinemas brasileiros mais um filme de Godzilla. Desta vez é Ebirah – O Terror dos Abismos. Assim como os antecessores, exibido com legendas.

Década de 1970

Em fevereiro de 1970, o simpático e bizarro O Filho de Godzila (Kaijuto no Kessen Gojira no Musuko) chega ao Brasil. Ainda em 1970, no mês de março, o nono filme de Godzilla, Kaiju Soshingeki, é lançado por aqui com o nome de O Despertar dos Monstros.

O décimo filme, Gojira, Minira, Gabara: Oru Kaiju Daishingeki, é promovido no Brasil em abril de 1971 como um filme infantil, sendo exibido nas matinés com o constrangedor nome de Monstrolandia.

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Monstros Invadem a Terra foi o nome dado no Brasil ao 11º filme da franquia, Gojira tai Hedora. Chegou aos cinemas ainda em 1972, no mês de outubro. Assim como todos os filmes anteriores, em versão legendada.

Em novembro de 1973, aporta nos cinemas nacionais Godzilla – O Rei dos Monstros, nome nacional de Chikyu Kogeki Meirei: Gojira tai Gaigan, produzido em 1972. Desta vez, a distribuição internacional ficou a cargo da Pel-Mex (Películas Mexicanas), que trabalhou com a marca na América Latina.

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O antepenúltimo filme de Godzilla a chegar ao Brasil nos anos 1970 foi Monstros de Outros Espaços, em 1974. Na resenha dos jornais da época, citam que Godzilla enfrentava o inimigo Megaro. Em 1987, esse filme teve lançamento em VHS em versão dublada pela BKS, sob a alcunha de Godzilla x Megalon, sendo mais um caso de nome diferente da versão de cinema, que já havia ocorrido na Globo quando a emissora suprimiu o nome “Gigantis” do filme O Monstro de Fogo em 1973.

Ainda nos anos 1970, vem A Odisséia dos Monstros, nome brasileiro para o filme Gojira tai Mekagojira. A exibição ocorreu inicialmente em setembro de 1975, retornando aos cinemas brasileiros entre de 1977 e 1978.

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Por fim, Mekagojira no Gyakushu, exibido com o nome de A Fúria dos Monstros, aportou no Brasil no primeiro semestre de 1976, com reprises flutuantes que duraram até 1979. Antes da chegada de Godzilla Minus One em 2023, essa foi a última vez que um filme japonês do monstro tinha sido exibido em terras brasileiras em circuito comercial.

Décadas de 1980 e 1990

Não tivemos a oportunidade de ver lançado no Brasil o reboot de 1984, que deu uma sobrevida ao monstro tanto para o público japonês quanto para o internacional. No Brasil, como já falado anteriormente, o único produto de Godzilla na década de 1980 foi a VHS Godzilla x Megalon, lançada em novembro de 1987, pela DIV Video.

O público brasileiro em geral só voltaria a ter contato com Godzilla a partir do início da era Heisei, com o lançamento do espetacular Godzilla x Biollante, de 1989. Lançado em VHS no ano de 1993 pela Tocantins Video, com dublagem da Álamo, esse filme foi exibido pelo SBT no Cinema em Casa em 12 de abril de 1995, com outra dublagem, realizada na Marshmallow. Ganhou mais três reprises: em 18 de fevereiro de 1997, e nos dias 6 de junho e 15 de agosto de 1998, graças ao lançamento do Godzilla americano com Matthew Broderick nos cinemas. Anos mais tarde, foi lançado em DVD pela Magna Films.

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Lançado no Japão em 1991, Godzilla x King Ghidorah também teve lançamento em VHS e exibições pelo SBT. A fita Godzilla contra o Monstro do Mal teve lançamento da Cannes Video, em versão dublada – a mesma do SBT, pela Marshmallow. Na emissora de Silvio Santos, o filme foi exibido três vezes: 31 de março de 1995, 21 de junho de 1996 e 9 de janeiro de 1998. Anos mais tarde teve lançamento em DVD pela Continental, com o nome de Godzilla x King Ghidorah, igual na TV.

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O último dessa trilogia de retorno, Godzilla x Mothra, de 1992, foi um verdadeiro campeão de reprises no Cinema em Casa do SBT: foi exibido em seis oportunidades (entre julho de 1994 a novembro de 1998). Foi lançado em VHS pela Crystal com o nome Godzilla – A Batalha do Século. Assim como Biollante, teve dublagem realizada na Marshmallow, de São Paulo.

Embora tenha sido especulado pelo jornal O Globo, em 14 de agosto de 1993, o filme seguinte, Godzilla vs. Mechagodzilla II, nunca chegou ao Brasil. A película, que trouxe novamente Godzilla Junior, ganharia aqui a inusitada alcunha de Baby Zilla (alusão à então famosa Família Dinossauro ou só piadinha do redator?). O lançamento seria da Tocantins Video, a mesma que trouxe Biollante ao Brasil naquele ano.

Imagem: Reprodução/O Globo

Assim, começou um hiato de filmes de Godzilla no Brasil. Além da promessa de Godzilla vs. Mechagodzilla II que não se concretizou, não foram lançados em solo brasileiro os filmes Godzilla vs. SpaceGodzilla (1994) e nem Godzilla vs. Destroyah (1995). A coisa mudou só a partir do ano 2000.

Década de 2000 até hoje

No final de 2000, às vésperas da chegada do novo milênio, a então mais recente produção da Toho, Godzilla 2000 (1999), foi lançada em VHS e DVD no Brasil pela Columbia TriStar, em cópias dubladas e legendadas. Foi exibido dublado pela Globo em 23 de outubro de 2004; pelo canal a cabo AXN a partir de janeiro de 2006; pela Band em 10 de janeiro de 2010; e pela Record em três oportunidades (até o momento): 3 de outubro de 2020, 23 de janeiro e 14 de agosto de 2021.

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Na época do lançamento em VHS, muitos pensaram que poderia ser uma nova abertura para Godzilla no Brasil. Isso não se confirmou. Mais quatro filmes lançados no Japão logo em seguida nunca tiveram lançamento por aqui: Godzilla vs. Megaguirus (2000), Godzilla, Mothra, King Ghidorah: Daikaijū Sōkōgeki (2001), Godzilla vs. Mechagodzilla (2002), e Godzilla, Mothra, Mechagodzilla: Tokyo SOS (2003).

A exceção foi o filme seguinte a esses quatro, Godzilla: Final Wars, lançado em DVD no Brasil como Godzilla Batalha Final, em versão legendada, pela Continental Home Video. O “final” no nome não era por acaso: de 2004 a 2015 parecia que não teríamos mais nenhum filme japonês de Godzilla. Mas aí chegou 2016.

O lançamento de Shin Godzilla, conduzido por Hideaki Anno, que anos mais tarde também fez sua versão “Shin” para Ultraman e Kamen Rider, chamou a atenção da crítica e do público na época. Mas não o suficiente para atrair interessados em distribuir o filme nos cinemas brasileiros em 2016. Chegou apenas em 2022, com transmissões por streaming via HBO Max, Amazon Prime Video e Crunchyroll.

O que parecia impossível acontece agora em 2023. Godzilla Minus One é um sucesso mundial, e todos os holofotes da crítica estão no filme, que já vem ganhando prêmios de nível internacional. O longa escrito e dirigido por Takashi Yamazaki teve estreia em circuito nacional no dia 14 de dezembro.

Ainda é cedo para saber como será o resultado nos números por aqui, mas parece que dessa vez a Sato Company se deu ao trabalho de fazer uma dublagem acima da média do que vem fazendo em seus outros produtos e, aparentemente, está com uma boa distribuição do filme em todo território brasileiro. Que seja um exitoso recomeço para o nosso adorável monstrão pioneiro e uma excelente forma de comemorar os 66 anos no Brasil em janeiro do ano que vem.