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Introdução do Texto por: Amer Houchaimi

Antes de começar a falar sobre o jogo em si, é importante conhecer um pouco mais sobre como tudo começou lá no 4chan… Sim, a idéia inicial do jogo surgiu no 4chan, aquele site aonde você provavelmente poderá encontrar imagens de um Dragão feculando com fezes… Mas esse não é o meu ponto. Enfim, vamos lá…

Um usuário do 4chan, com o pseudônimo de “Nurse-kun” e que declarava ser um enfermeiro na vida real, começou a postar sobre uma paciente que havia chegado ao hospital em que ele trabalhava. A paciente em questão era uma menina de sete anos, que havia sofrido um acidente de carro e tinha não apenas ficado órfã, como perdido as duas pernas, um braço e um olho.

Inicialmente, Nurse-kun só queria fazer o mesmo que os demais usuários: chocar. Na primeira postagem ele pediu a opinião dos demais membros do fórum se devia abusar da menina ou não caso tivesse chance. As tradicionais piadas sobre pedofilia e estupro se seguiram e a vida continuou normalmente.

Mas a história não parou por aí, Nurse-kun continuou relatando a vida da menina e sua dificuldade em adaptar-se a sua nova condição, não só ela precisava aprender a se virar com próteses, como também com as cicatrizes mentais causadas pela perda dos pais. Pra piorar as coisas, ela estava sozinha no mundo, pois não tinha parentes vivos do lado da família de seu pai e a família de sua mãe nunca aprovou o casamento e queria distância dela.

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Nurse-kun se condoeu pela menina e aos poucos se aproximou dela. Tornou-se seu amigo e mostrou-a que não estava sozinha no mundo.

Eis o ponto mais chocante dessa narrativa: muitos membros do 4chan se sensibilizaram com a história e pediam a Nurse-kun que os mantivesse atualizados a respeito da menina. Muitos fizeram desenhos da garotinha, baseados na descrição de Nurse-kun e as postaram no fórum.

Eventualmente, Nurse-kun se tornou o guardião legal da menina e parou de escrever no 4chan. Hooray para um final feliz!

Verdade seja dita, alguns pontos da história fazem ela parecer a criação de uma mente muito imaginativa, a menina descrita por Nurse-kun é loirinha de olhos claros, mas com feições asiáticas, devido a miscigenação entre seu pai Nórdico e sua mãe Japonesa. Convenhamos, uma combinação que parece saída de um anime.

E Nurse-kun errava termos médicos básicos ao falar dos ferimentos da menina, o que leva a crer que ele não é um enfermeiro real, só um sujeito com muito tempo livre e que deveria estar escrevendo roteiros para Hollywood. Sinceramente isso não importa, acho que os fins justificam os meios e os resultados desta história é que valem.

Logicamente, dado o conteúdo presente no 4chan, muitos usuários começaram a conversar sobre transas com meninas deficientes, o quanto ficavam excitados em imaginar uma menina sem pernas nem braços sendo violentada e por aí vai.

Mas eles não foram a maioria neste caso. Outros tiveram uma idéia bem mais nobre.

Um grupo de usuários do site decidiu unir-se e criar um game onde o tema seriam garotas com deficiências e a possibilidade de se namorar com elas. Nasceu Katawa Shoujo (literalmente “Meninas Deficientes*”).

*A tradução literal de Katawa seria algo como defeituoso, em tom pejorativo. Mas os autores do  jogo esclareceram que o uso e significado de Katawa no título do mesmo, era a deficiência das garotas.

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Basicamente, é um game ao estilo simulador de encontros, como True Love, Hitozuma Hime e diversos outros games eróticos para PC. Então, vamos nessa?

Você é Hisao Nakai, um garoto aparentemente normal que estuda em um colégio idem. Um certo dia, ele recebe uma bilhete misterioso de alguém que queria falar com ele. Chegando lá, descobre que é a garota de quem ele gosta, e mais, a guria se declara pra ele. Mas, como alegria de pobre dura pouco, Hisao tem um ataque cardíaco e bem… Ele ficou vivo por pouco.

No hospital, ele (e os pais) descobrem que o garoto tem arritmia cardíaca, e que é um milagre ele ter sobrevivido até ali, já que caso o coração dele fique descompassado, pode acabar morrendo. Hisao é transferido para um colégio aonde pessoas com necessidades especiais aprendem a conviver com seus problemas.

Nesse colégio, ele conhece algumas meninas, e o jogo tem como objetivo fazer com que você se relacione com alguma delas.

O game é uma visual novel, e acreditem, a maneira que a história se desenrola é fantástica. Cada um dos personagens que você conhece (exceto o Kenji, tremendo mala sem alça) tem uma profundidade, e mesmo cada um deles (com exceção da Yuuko, do professor e do Enfermeiro) tem uma vida normal a despeito de suas deficiências, e com isso, o próprio Hisao aprende a ver a vida por um ângulo diferente.

Um (senão O) ponto fraco do jogo, principalmente para aqueles mais afobados e que querem ver logo as cenas de sexo, é a quantidade de textos, que é enorme (eu não reclamo DISSO) comparado as questões de escolha, que são poucas durante o jogo. De resto, é sentar, clicar e apreciar a excelente construção do roteiro e personagens. De fato, ao fim da jogatina, você estará apaixonado por uma delas.

O nome Katawa Shoujo (Menina Deficiente), acaba sendo apropriado, não pelas condições físicas, mas pelo significado dentro do mundo do jogo, que as deficiências das meninas não são as físicas, mas sim seus defeitos, como os de qualquer pessoa normal. A Emi por exemplo, é teimosa feita uma mula. (Ela e a mãe confirmam isso).

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Antes de partir para o resto dos quesitos do título, ressalto algo que foi importantíssimo aqui na minha avaliação. Hoje em dia, com a tecnologia que temos, a experiência de jogar é cada vez mais imersiva, podemos facilmente citar aqui Mass Effect 2, I Am Alive, Dragon Age, entre outros blockbusters, mas pra mim, poucas obras foram realmente tocantes a ponto de me fazer chorar, mesmo em outras mídias como animes, mangás, ou livros, e posso citar aqui, os dois outros momentos que me fizeram isso, mesmo sendo um marmanjão. Um é uma cena da Saga de Hades dos Cavaleiros do Zodíaco, em que Miro aplica as agulhas em Kanon, a direção dessa cena é fantástica. Eu vi na época em que saíram os OVA’s e revi recentemente quando comprei os DVD’s.

Uma outra cena que me tocou, foi em Drakengard 2, RPG de ação da Square-Enix pro Playstation 2, com uma das dublagens americanas mais medonhas que já vi (Mas perde pra Soul Calibur 3, King of Fighters 2006 e pro lendário Masked Rider de Sega CD), foi quando a Eris (uma das personagens), reaparece viva, devido ao mundo ter se tornado caótico (não darei mais detalhes pra não dar Spoilers), mas nesse específico trecho do jogo, a dublagem medíocre deu espaço a ótimas interpretações e aí já viu… Lencinhos e lencinhos.

E a terceira cena se passa em Katawa Shoujo, em um determinado momento da história seguindo a linha de relacionamento com uma garota, um diálogo foi tocante o suficiente pra me fazer ir às lágrimas. Tipo, a despeito da força da garota pra superar o problema físico dela, ela revelou sua fragilidade emocional a tal ponto de me comover, eu me senti como o Hisao na cena em si. Isso, é algo muito bem feito, e o 4Leaf Studios (responsável por Katawa Shoujo) está de parabéns por isso. (O vídeo não expressa o que eu senti, porque fui acompanhando o jogo inteiro e o impacto da cena foi maior).

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Graficamente, KS é bem desenhado. Os cenários em si, são simples, meramente fotografias que passaram pelo Photoshop pra dar um ar “mais videogame”, coisa que vejo alguns mangakás usando (oi, Masami Kurumada?), mas as artes utilizadas são muito boas. Todas as meninas são muito bonitas (tá, a Rin não é tão assim).

Para aqueles mais puristas, ou que estejam jogando com pais ou parentes menores, é possível habilitar um filtro para as cenas mais eróticas. Mas não se engane, apesar de ser um eroge, o sexo em si é tratado com bastante sensibilidade.

Sonoramente, são composições distintas, nada de se chamar muito a atenção, mas uma trilha que combina bastante com o jogo, e não é desagradável. De fato, ela ajuda a jogatina em si.

Finalizando, Katawa Shoujo é uma experiência única, e acho que minha primeira experiência decente com Eroges (a anterior era um jogo em que tudo direcionava ao sexo). Um game de qualidade ímpar, que não deixa a dever em roteiro e execução do mesmo a Visual Novels mais aclamadas pelos fãs. Altamente recomendado.

Avaliação do JBox: 100%
Pontos Positivos: Roteiro bem escrito, Personagens fortes
Pontos Negativos: Falta de escolhas.