Se interessou em assistir Ultraman Geed – O Filme (Ultraman Geed The Movie: I’ll Connect With the Wish!), longa-metragem de 2018 recentemente lançado aqui no Brasil através da plataforma Cinema Virtual? Pois antes de dar uma olhada, saiba que é necessário preencher dois requisitos para que a apreciação seja completa, ou minimamente agradável: já ter algum conhecimento prévio da franquia e, em específico, desse Ultraman explorado; e fazer parte do público ao qual a produção se destina. Sem esses checkpoints, a experiência será um tanto… difícil.

Ocorre que o longa é um epílogo da série Ultraman Geed, de 2017 (disponível no Brasil pela Crunchyroll) que reúne alguns personagens de seu predecessor, Ultraman Orb, de 2016 (disponível na Crunchyroll e no Prime Video). Ele funciona como um “episódio estendido” na mitologia da série, lançado nos cinemas após seu término, na respectiva primavera japonesa. Logo, sem ter assistido o que já rolou antes em tal temporada (caso deste que vos escreve), muita coisa não faz sentido.

O filme conta a história de uma invasão à Terra planejada por um planeta “Brainiac” interdimensional, que digitaliza as informações dos lugares que passa em seu cérebro eletrônico, destruindo os mundos de um multiverso nesse processo. Para enfrentá-lo, a Terra conta com o Ultraman da vez, Geed, que tem ajuda de outros combatentes espaciais, vindos dessa ou de outras dimensões. Entretanto, combater esse inimigo é uma tarefa difícil para a tropa de heróis Ultraman, já que, aparentemente, seus poderes especiais não fazem efeito ante sua magnitude. Posto isso, Geed necessita de uma arma específica para alcançar a vitória e salvar a humanidade, contada em lendas antigas por influência alienígena no folclore japonês.

Ainda que a premissa seja relativamente simples e compreensível (um inimigo muito poderoso só poderá ser detido caso o herói conquiste um poder acima de seu level), o total desinteresse do roteiro em explicar minimamente regras, relações e acontecimentos prévios que levaram os personagens daquele ecossistema narrativo até onde estão não permite que o filme seja, de fato, entendido por quem não conhecia tal universo. O que é totalmente justificável, já que, novamente, essa é só uma extensão da série de TV.

Não dá para captar, por exemplo, o porquê de o protagonista, que aparentemente venceu o grande chefão do seriado, é tão inseguro em lutar sozinho. É citado que a Terra agora é protegida apenas por ele, que outro Ultraman, que também estava ali, partiu recentemente, mas os motivos para isso não são mencionados. É perceptível que a equipe que o acompanha possui membros com seus próprios trejeitos e níveis de autoridade, mas desvendar qual a intimidade de cada um é complicado, visto as interações não irem tão a fundo em tela, pois já devem ter sido exploradas em inúmeros episódios. Há um time de Ultraman no espaço também tentando enfrentar o inimigo, com um deles, inclusive, vindo para a Terra e se “fundindo” com um dos coadjuvantes (um salaryman de alívio cômico que, até então, não sabia lutar), com o ocorrido sequer recebendo um diálogo de exposição para explicar a relação entre eles. Ainda outro Ultraman, esse também em forma humana, mas vindo de outra dimensão (e outra temporada da série), é inserido na trama, tendo também uma relação com o anti-herói (ou vilão?) que ajuda Geed e os outros, mas o longa termina sem pontuar qual é a da dupla.

Esses pontos acima e vários outros, provavelmente, devem ser desvelados ao assistir Ultraman Geed. O público japonês de fãs da série que foi aos cinemas certamente não teve problema nenhum com isso. Afinal, é para eles que o filme foi feito. E, ó, para curtir I’ll Connect With the Wish!, é necessário estar totalmente dentro da fatia de consumidores desse tipo de produção, seja você uma criança em idade pré-escolar ou escolar, ou um verdadeiro fã de tokusatsu, abraçando de verdade a proposta do segmento em soar “trash” prum público mais maduro. Sem isso, os problemas de roteiro, atuação, figurino e efeitos especiais irão saltar aos olhos. E aí, assistir será uma perda de tempo.

É preciso se despir de qualquer seriedade e rebuscamento adulto para deixar passar momentos bastante inocentes, como os personagens achando a arma poderosíssima, lendária, que derrotará o inimigo prestes a varrer a humanidade da história, da maneira mais conveniente e fácil para a história. Ou para tolerar que, quando vários Ultraman se juntam para enfrentar um robô gigante, eles tomam uma coça sem precedentes, mas quando são vários desse mesmo robô ao mesmo tempo, os heróis os destroem tirando poder apenas de sua determinação. Ou para ignorar o excesso de chroma keys cortados sem muito afinco, com escalas esquisitas e personagens iluminados de uma forma enquanto a fotografia do cenário vai por outro caminho. Particularmente, não me importo com isso, gosto de tokusatsu num geral e tais pontos não me incomodaram tanto. Tanto.

Em resumo, Ultraman Geed – O Filme é um produto voltado para aqueles que já acompanharam suas aventuras na série. Ao assistir sem esse background, a experiência pode ser bastante confusa. É literalmente um episódio a mais, mas com uma maior duração e lançado nas salas de cinema. Se você não cumprir os requisitos de público e ainda assim quiser conferir, tenha em mente que será como ir para uma festa que você não foi convidado, onde não tem nenhum conhecido e todos estão falando de um assunto que você desconhece.

Quer outra opinião? O colega César, que já conhece a franquia mais a fundo, também escreveu sobre o filme aqui.

Ultraman Geed – O Filme está em cartaz no Cinema Virtual com opção de áudio dublado em português ou em japonês, com legendas em português. O ingresso para a sessão digital custa R$ 24,90 e é necessário possuir uma conta do serviço de aluguel de filmes Looke para acessar o site.