O mundo do entretenimento pop japonês é bem grande, se espalha por diversos espectros: os literários de mangás, novels e suas respectivas variações, os audiovisuais de séries animadas, em live-action e por aí vai. Enquanto algumas dessas produções exigem dedicação e engajamento por horas e horas, às vezes dias, a fim de cobrir todos os capítulos e episódios de uma história, em outras esse tempo pode ser reduzido, mas ainda assim, bastante satisfatório.

Dando uma passeada pelos catálogos dos serviços de streaming atuais, há várias opções de filmes e OVAs bastante interessantes para sessões casuais em momentos onde buscamos entretenimento fechadinho, que podem ser matados numa tarde. Na lista abaixo, separo 5 dicas de filmes e uma dica de OVA com ressalvas, todos disponíveis no Prime Video. Tem de clássicos feitos 5 décadas atrás a lançamentos bem recentes, indo do público mais infantil ao adulto em questão de cliques. Prepare a pipoca, o refrigerante, escureça a sala e vamos lá…


Panda! Go Panda! As Aventuras de Panda e seus Amigos

(Panda Kopanda, Isao Takahata, 1973)

Esse aqui trata-se de uma união de dois média metragens num só: Panda! Go Panda!, de 1972, e Panda! Go Panda!: Rainy Day Circus, de 1973, ambas dirigidas pelo grande Isao Takahata (Túmulo dos Vagalumes, O Conto da Princesa Kaguya) e roteirizadas pelo também enorme Hayao Miyazaki (A Viagem de Chihiro, Princesa Mononoke), pelo estúdio TMS, sendo assim uma adição de catálogo interessantíssima para os fãs brasileiros do cinema de animação japonês, já que é uma obra da dupla antes da fundação do estúdio Ghibli, em 1985, junto com o Toshio Suzuki.

Na trama, que me parece só não ser mais viajada no ácido pela falta de espaço, Mimiko, uma menininha órfã, após ser deixada em casa por sua avó, que saiu numa viagem de férias, forma uma família atípica, adotando como irmão um jovem panda falante e seu pai. O primeiro filme é o mais legal, com eles vivendo todo esse absurdo familiar, rendendo cenas de pura insanidade, como o pai panda se tornando um salary man na administração de um zoológico. Mas o segundo também é bem divertido, com um bebê tigre de um circo se juntando ao grupo e uma chuva inundando a cidade, tal como o Miyazaki faria, numa escala maior, anos mais tarde, em Ponyo. Uma graça voltada para o público infantil, mas que também deve agradar os mais velhos.

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Lupin III: O Castelo de Cagliostro

(Rupan Sansei: Kariosutoro no Shiro, Hayao Miyazaki, 1979)

Ainda na seara de filmes envolvendo a futura equipe do estúdio Ghibli, esse longa é o primeiro projeto cinematográfico dirigido pelo Hayao Miyazaki, sendo também um grande marco dentro do universo mundial da animação para as telonas. John Lasseter, diretor dos dois primeiros filmes das franquias Toy StoryCarros e fundador da Pixar, aponta O Castelo de Cagliostro como uma influência.

Na história, o ladrão Lupin III vai até o pequeno país de Cagliostro em busca de um tesouro escondido num castelo. O lugar, no entanto, é dominado por um conde que quer forçar a adorável Clarisse a se casar com ele, o que acaba mudando um pouco os planos do ladrão. Então, ao lado de seus companheiros Jigen e Goemon, Lupin III busca desvendar os segredos do tesouro e também salvar a garota, enfrentando de lambuja a ira de policiais e assassinos. O filme é não menos que espetacular. Pra este que vos escreve, é um dos melhores já feitos no Japão. São várias cenas com uma animação de tirar o fôlego, com as possibilidades sendo usadas de forma criativa em tela, esbanjando graça também num roteiro afiado, cheio de diálogos divertidos e desenvolvimentos bacanas.

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Mary e a Flor da Feiticeira

(Mary to Majo no Hana, Hiromasa Yonebayashi, 2017)

De um filme feito por grandes nomes do estúdio Ghibli antes de sua fundação, aqui está um exemplo de produção “pós-Ghibli”. Mary e a Flor da Feiticeira é uma produção do estúdio Ponoc, fundado por ex-contratados da casa de Miyazaki. A direção é de Hiromasa Yonebayashi (O Mundo dos Pequeninos), o roteiro foi assinado por Riko Sakaguchi (O Conto da Princesa Kaguya) e a produção ficou a cargo de Yoshiaki Nishimura (As Memórias de Marnie). Um ecossistema que por si só já atrairia a atenção, fazendo aqui algo que, honestamente, cairia como uma luva no catálogo excelente de estúdio anterior.

O filme adapta o livro The Little Broomstick, da autora Mary Stewart. A história gira em torno de Mary, uma menina desastrada que, após acidentalmente adquirir poderes de uma flor, acaba se envolvendo numa trama maluca em um colégio de bruxas cheio de segredos e mistérios sombrios. É tudo muito bonito aos olhos, com algumas cenas se arranjando em tela como em pinturas surrealistas. O final, em especial, é bem lindo de olhar. Tal como outras obras japonesas (e a Viagem de Chihiro deve ser a referência imediata nesse pensamento), a inocência mais limpa como os problemas são encarados no decorrer da trama é encantadora.

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Promare

(Hiroyuki Imaishi, 2019)

O mais recente dessa lista e um dos mais impressionantes do catálogo também. Lançado nos cinemas japoneses no ano passado (e foi anunciado para os daqui também, em meio à pandemia, mas acabou chegando primeiro no streaming), Promare é uma produção em parceria entre os estúdios XFlag e Trigger, sendo dirigido e roteirizado por dois grandes nomes desse segundo, Hiroyuki Imaishi e Kazuki Nakashima, ambos responsáveis por séries como Tengen Toppa Gurren Lagann e Kill la Kill. Foi um sucesso em bilheteria, arrecadando mais de 13 milhões de dólares internamente e mais que 17 milhões contando as exibições ao redor do mundo. E também foi um sucesso em crítica, conseguindo uma indicação à categoria de melhor longa-metragem independente na edição desse ano do Annie Awards.

O longa conta uma realidade onde a Terra foi invadida por uma onda de poderes mutantes incendiários despertados em cidadãos ao redor do mundo. Por consequência da falta de controle nesse surgimento, metade do planeta é dizimado em chamas. Passam 30 anos e o mundo aprendeu a lidar com esses incêndios à sua maneira, incluindo a criação de equipes de bombeiros turbinados, do qual o protagonista, Galo, faz parte de uma. Em contraponto, existem grupos mutantes apontados como terroristas por se reunirem para colocar fogo em locais.

E tal como Stan Lee fez em X-Men décadas atrás, as coisas não são tão óbvias assim, com o enredo servindo de porta para tratar sobre preconceito racial, raiva, revanchismo, marginalismo, hipocrisia e sobre como pessoas podem usar o medo alheio para lucrar em seus próprios propósitos escusos. Quem já conhece o trabalho do Trigger sabe o que esperar em questões visuais, com traços e cenários bem estilizados e bastante capricho na hora de impressionar o espectador. Há uma porção de cenas de ação desnorteantes, mas uma no começo, onde rola o primeiro embate entre Galo e o “antagonista”, é de cair o queixo.

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Dead Leaves

(Hiroyuki Imaishi, 2004)

Primeiro filme do já citado Hiroyuki Imaishi, mas aqui antes mesmo da fundação do estúdio Trigger. Imagine toda a loucura visual e narrativa de suas obras mais famosas, mas sem muita preocupação em soar refinado, polido ou minimamente acessível para o grande público. O resultado é Dead Leaves, um dos trecos mais anárquicos, psicodélicos, frenéticos e viajados no ácido que você poderá observar em cartaz por aqui atualmente – mas sem as crianças na sala. Ou seus pais. Ou seu cachorro. Ou qualquer um mais sensível.

Sendo uma animação em média metragem original de 2004 do estúdio Production I.G. (Blood CTales of Vesperia: The First Strike), Dead Leaves conta a história de Panda, uma mulher com uma mancha no olho que a faz parecer, ahn, um panda, e Retrô, um homem com cabeça de televisão. Após despertarem sem memória e roubarem um banco, a dupla é presa e mandada para Dead Leaves, uma terrível prisão na Lua onde os detentos são mortos ao menor deslize. Panda e Retrô então começam uma fuga que irá revelar os segredos por trás de suas memórias perdidas e da própria Dead Leaves.

Assista aqui. Talvez embriagado.


Vampire Hunter: Darkstalkers

(ou Night Warriors: Darkstalkers’ Revenge, Masashi Ikeda, 1997-1998)

Essa aqui é uma indicação com ressalvas. Lançado em quatro partes entre 1997 e 1998, Vampire Hunter é um OVA (tipo de animê feito diretamente para circulação em home video, geralmente com um pouco mais de “capricho” do que o que é feito para TV, visto a quantidade de episódios e a frequência ser diferente) dirigido por Masashi Ikeda baseado na série de jogos Darkstalkers, da Capcom. Ele foi anunciado com exclusividade aqui no JBox pela Sato Company cinco anos atrás, mas só em abril desde ano acabou vendo a luz do dia dentro do Prime Video, sem opção de dublagem.

A história é meio confusa, mas divertida. O mundo é dividido entre pessoas e seres das trevas, como lobisomens, vampiros, múmias, zumbis e por aí vai, os darkstalkers. Nessa, acompanhamos as narrativas de vários personagens diferentes, que vem de rumos distintos, mas acabam se juntando num mesmo propósito ao final (ligeiramente hilário). Um híbrido de humano e darkstalker que caça vampiros, uma menina com poderes telecinéticos, duas irmãs com poderes espirituais, uma felina circense, um imperador vampiro banido do mundo das trevas que busca vingança, uma succubus provocante e muito poderosa, a lista segue. O problema é que as legendas são péssimas, cheias de erros de digitação, erros de português e erros de tradução. Parecem feitas por amadores e não revisadas em momento nenhum. Se tiver paciência, vale a conferida.

Assista aqui.