Ontem (04) a IGN postou uma entrevista com diversas pessoas envolvidas em Final Fantasy XVI, cobrindo uma variedade de tópicos sobre o jogo. Uma das perguntas, no entanto, causou polêmica: ao ser questionado sobre a possibilidade de personagens negros no jogo, Naoki Yoshida deu uma resposta que não agradou parte do público.

Yoshida disse que o jogo se inspira na Europa medieval e, apesar de ser uma ficção, um “excesso de diversidade étnica” poderia violar os limites narrativos auto-impostos pela equipe de produção — certamente causando insatisfação em muitos fãs que esperavam mais diversidade no jogo.

Muitos chamaram à atenção ao fato de que variedade étnicas — incluindo pessoas negras — sempre existiram na Europ medieval e, portanto, a equipe de produção teria pesquisado pouco ou se deixado levar por viéses.

Por exemplo, há negros no Reino Unido há mais de dois mil anos — e também havia no Império Romano. Além disso tudo, a península ibérica (atual território que abrange Portugal e Espanha) esteve no domínio islâmico por mais de 500 anos (na escola, por vezes os islâmicos são chamados de “mouros”).

Sisi Jiang, game developer de origem sino-americana e que também escreve no Kotaku, disse ter entrado em contato com a Square Enix sobre essa questão.

 

Confira a pergunta e a resposta na íntegra, traduzidas por nós:

IGN: Sobre diversidade no jogo, podemos esperar personagens negros no FF XVI, ou personagens não-brancos num geral? Clarificando, há uma discussão sobre os trailers já divulgados terem majoritariamente personagens brancos, e queria saber se podemos esperar que o jogo seja mais diverso.

Naoki Yoshida (produtor): Essa pergunta é difícil, mas não inesperada, já que diversidade nas mídias é um tópico quente atualmente. Mas a resposta talvez seja decepcionante para alguns, dependendo da expectativa.

Nossos conceitos de design desde o começo sempre foram muito pautados na Europa Medieval, incorporando padrões históricos, culturais, políticos e antropológicos que eram predominantes na época. Quando estávamos decidindo a melhor ambientação para a história que queríamos contar — de uma terra assolada pelo Blight — sentimos que, ao invés de criar algo em escala global, precisávamos limitar o escopo a um único território — um isolado geograficamente e culturalmente do resto do mundo em uma era sem aviões, televisões ou telefones.

Devido às restrições geográficas, tecnológicas e geopolíticas inerentes a essa ambientação, Valisthea não poderia ser realisticamente tão diversa quanto à Terra atual… ou mesmo quanto a Final Fantasy XIV, que tem todo um planeta (e lua) de nações, raças e culturas. A natureza isolada do reino, contudo, acaba contribuindo bastante para a história e é um dos motivos que o destino de Valisthea se amarra ao do resto do mundo.

Por fim, sentimos que, embora diversidade étnica fosse importante em Valisthea, uma super-incorporação dela nesse pedacinho de um mundo tão mais vasto poderia violar os limites narrativos que nós nos impusemos originalmente. A história é fantasia, mas também é pautada na realidade.

Em contrapartida, a série Final Fantasy sempre lidou com conflito e disputa, especialmente entre os poderosos e aqueles usados e/ou explorados pelos poucos privilegiados — uma tendência proeminente na história da humanidade. Em um jogo que, pela concepção, permite aos jogadores experimentar esses conflitos e disputas em primeira mão por meio de batalhas dinâmicas e realistas, pode ser um desafio atribuir etnicidade ao antagonista ou protagonista sem provocar preconcepções do público, abrindo espaço para especulações indesejadas, e, em última instância, alimentando polêmicas. Contudo, a melhor parte de se inspirar diretamente na História é que nos permite revisitar e reexaminar nossos próprios passados, mas ao mesmo tempo permitindo criar algo novo.

No fim das contas, queremos que o foco seja menos na aparência exterior dos nossos personagens e mais em quem eles são como pessoas — pessoas de naturezas, origens, crenças, personalidades, e motivações complexas e diversas. Pessoas cujas histórias podem ressoar conosco. Há diversidade em Valisthea. Uma diversidade que, apesar de não totalmente abrangente, é sinérgica com a ambientação que criamos e verdadeira às nossas fontes de inspiração.


Final Fantasy XVI está previsto para meados de 2023, mas o produtor Naoki Yoshida disse que mais informações devem ser divulgadas no fim do ano, e possivelmente a data de lançamento será uma delas. Em uma entrevista ao 4Gamer, ele disse que um novo trailer deve ainda sair em 2022.

O jogo está sendo desenvolvido pelo estúdio Creative Business Unit III da Square Enix, produzido pelo próprio Naoki Yoshida (Final Fantasy XIV: A Realm Reborn) e dirigido por Hiroshi Takai (The Last Remnant). O game sofreu atrasos devido à pandemia.

A trama trará Clive Rosfield, o filho do arquiduque do Grão-Ducado de Rosaria que estava encarregado de proteger seu irmão, Joshua, que despertou como o Dominante da Fênix ao invés dele. No entanto, a história de Clive deve ir muito além de seu papel como “Primeiro Escudo de Rosaria”, já que as informações indicam que futuramente ele começará uma jornada em busca de vingança, possivelmente relacionada a um incidente com sua família.

Desta vez, o universo será ambientado em Valisthea, terra cravejada de Cristais-Máter, a fonte do éter usado para conjurar magias. No jogo também haverão os Eikons, poderosas criaturas de Valisthea que residem dentro de um Dominante, um homem ou mulher abençoado com a habilidade de conjurar seus poderes devastadores — é o caso de Joshua, irmão mais novo de Clive.

Anunciado até o momento somente para PlayStation 5, segue sem uma data exata de lançamento. Uma versão para PC, que inicialmente foi noticiada, já foi negada pela empresa.


Fonte: IGN, Kotaku AU


Final Fantasy

Imagem: Logo e personagem de 'Final Fantasy'.

Final Fantasy é uma franquia multimídia e uma das séries de RPG mais populares mundialmente. Publicado e desenvolvida pela então Square (cuja filial americana se chamaria SquareSoft), o primeiro título foi lançado em 1987, desenvolvido por Hironobu Sakaguchi logo após a fundação da empresa em 1986 (embora ela existisse, em parte, desde 1983 como divisão da Den-Yu-Sha). Os elogios da crítica e o sucesso comercial do primeiro FF geraram inúmeras sequências e outros produtos, incluindo filmes, séries de animê e mangás.

Como a história de Final Fantasy (1987) não foi criada para ter uma continuação, Final Fantasy II (1988) foi o primeiro jogo sem locais ou personagens de seu antecessor. Isto acabou se repetindo nos títulos posteriores, tornando-se uma característica da franquia. Cada jogo principal conta com uma história própria, com um novo elenco de personagens e mundos diferentes, embora os jogos compartilhem alguns elementos em comuns, caracterizando a franquia, cujas vendas ao redor do mundo já ultrapassaram 140 milhões de cópias, considerando todos os títulos.

Entre 1987 e fevereiro de 2003, a Square lançou 11 jogos da franquia principal de Final Fantasy e 13″spin-offs”, como Mystic Quest (1992) e Chronicles (2001).  Em abril de 2003, a empresa se fundiu com a Enix, conhecida por Dragon Quest, dando origem à Square Enix. Atualmente, a “linha principal” conta com 15 títulos. Em março de 2020, uma enquete da NHK ranqueou os jogos favoritos dos japoneses, com Final Fantasy X (2001) ficando na primeira posição.