Uma das atrações que a Crunchyroll trouxe para a CCXP 2022 é algo que os fãs sentem falta até nos eventos especializados em animê (pelo menos, os maiores): exibição de animês. E não é qualquer coisa. São pré-estreias de séries de 2023, antes mesmo da televisão japonesa, inclusive com recado de produtores especialmente para o evento. É algo que deve ser aplaudido, seja como for.

A questão é que, se você traz as obras de forma oficial, quais animês serão exibidos é algo que depende de uma série de aprovações e processos e nem sempre o que os fãs querem assistir é o que será liberado pelas produtoras japonesas (considerando que estamos a um mês dessas estreias, várias dessas animações devem ainda estar sendo finalizadas, inclusive).

Os quatro títulos que a Crunchyroll conseguiu a liberação de exibir no evento com certeza não foram os melhores exemplares do que a temporada de janeiro terá a nos oferecer. Existia até a promessa de um quinto animê misterioso, que foi revelado no painel de quinta-feira (01) como sendo Chillin’ in My 30s after Getting Fired from the Demon King’s Army, mas ele não chegou a ser exibido, muito provavelmente por conta de o tempo do painel estar quase estourando o início do painel seguinte, no Palco Ultra da CCXP.

Então, vamos aos quatro animês que pudemos ver adiantadamente no evento, na ordem em que foram exibidos:

 

The Reincarnation Of The Strongest Exorcist In Another World

‘Strongest Exorcist’ é um isekai. Ele tem várias das características que conhecemos e já estamos um tanto cansados nos isekais — inclusive, a série tem várias semelhanças com Mushoku Tensei, tirando o bom valor de produção.

O que ele tem, pelo menos, é um “twist” interessante na fórmula: seu protagonista já é um personagem antes de chegar ao outro mundo! E as condições para que ele chegasse ao outro mundo importam! É algo! O personagem principal é um poderoso exorcista no Japão antigo, chamado Haruyoshi Koga, e a série abre com ele sendo traído e morrendo em batalha. É nesse momento que ele usa um feitiço para ser revivido em outro mundo (já que as técnicas dele já envolvem acessar outros planos e invocar ayakashis). 

A questão é que, a partir daí, todo o restante do primeiro episódio é exatamente o que já esperamos desse tipo de história. O protagonista foi revivido no corpo de um menino chamado Seika, numa família usuária de magia num mundo “medieval semi-moderno” (?) genérico, com monstros e magia mas com mansões e roupas mais ou menos modernos estilo aristocratas do século XVIII. O único toque a mais aqui é que Seika (por conta de ser, na verdade, Haruyoshi) não usa a magia daquele mundo, mas suas invocações espirituais. Na prática? Dá na mesma. 

O maior problema do anime (que será compartilhado por mais séries que vimos no painel) é que ele tem certa dificuldade de deixar explícita qual a sua trama. Foi um primeiro episódio bastante expositivo, cheio de explicações sobre o funcionamento das magias, das criaturas, da organização da sociedade em relação a pessoas com ou sem magia, etc. etc… mas o plot? Esse, não sabemos.

Haruyoshi reviveu como Seika numa família abastada na qual ele é maltratado por um dos irmãos por “não saber usar magia”, mas nunca fica muito claro o que ele quer ou precisa fazer nesse mundo, além de uma ideia geral de “nesta vida, serei mais esperto”. O animê se preocupa muito em apresentar o seu mundo — tanto, que a sensação foi a de que não estávamos vendo o episódio 1 completo, mas um compilado de melhores momentos só com as informações importantes; até achei que a Crunchyroll quisesse acelerar o painel —, mas não fica claro sobre o que é essa história de fato. Uma estreia fraca, para dizer o mínimo.

 

The Fruit of Evolution 2: Before I Knew It, My Life Had It Made

Confesso que fica um pouco difícil fazer uma resenha justa de ‘Fruit of Evolution 2’ sem ter visto a primeira temporada. Por outro lado, este episódio 1 da temporada 2 não só conta com um resumo de tudo que rolou na primeira, como parece ser quase um “reset” na série, que agora se passará numa escolinha de magia.

É uma experiência curiosa, ver esse “S201” sem ter visto nada antes, porque você vai mais ou menos preparado. Você sabe que é um isekai, a história de um garoto gordo que caiu em um outro mundo e comeu uma “fruta da evolução” e, com isso… evoluiu para um cara magro? (…gostar de animê é fazer muitas concessões…) E aí ele conhece uma gorila que se apaixona por ele, come a fruta e evolui para uma waifu. E segue-se aí a formação de um harém com uma lutinha contra inimigos aqui e ali. OK. 

Mas nada disso parece ser um fator determinante em como a história se desenrola. A sensação é a de que ‘Fruit of Evolution’ nem precisava necessariamente ser um isekai. O negócio da fruta só serve para, aqui e ali, a waifu se transformar numa gorila rosa e o animê fazer a mesma piada repetidamente. Ele brinca com referências “de velho”, faz umas expressões mega-exageradas para efeito cômico, e essas coisas quase funcionam, mas é um humor consideravelmente repetitivo.

Inclusive, com esse “reset”, o ambiente da escola parece ser só uma desculpa para que cada membro do harém do protagonista sirva uma nova função como um fetiche diferente — como o protagonista será o professor, algumas meninas são alunas, outras são professoras, uma delas é a assistente, e temos aí todo um esquema novo de fantasias. Aliás, a sala de aula da qual o protagonista será responsável é tão cheia de clichês de escola japonesa (tem até um “yankee” de topete) que eu nem sei se esse animê precisava ser uma fantasia.

Mais uma vez: não assisti à primeira temporada de ‘Fruit of Evolution’, então encarem a review sob esse viés. Mas não sei se perdi muita coisa.

 

In/Spectre Temporada 2

Outro animê que não acompanhei a primeira temporada, mas que contou com um resuminho do conceito que fez parecer que é uma série episódica; logo, entendendo o conceito, dá (em tese) para seguir em frente. O conceito é: Kotoko é a “deusa da sabedoria dos seres sobrenaturais” e namorada de Kuro, um rapaz que também pode ver espíritos e é imortal. Juntos, eles parecem resolver casos envolvendo espíritos.

A dúvida que ficou com este primeiro episódio da segunda temporada é: o animê é sempre assim? Sempre tão tedioso? Tão expositivo?

Nota do editor: Temos uma crítica da 1ª temporada aqui no site, escrita por Igor Lunei.

In/Spectre parece gostar muito de ser o oposto da regrinha de ouro do “Show, don’t tell”, ou seja, “mostre, não fale”. Quase tudo que podíamos ter visto acontecer, é, na verdade, contado em retrospecto em diálogos duros com os personagens parados num só lugar.

Kotoko é chamada por um espírito porque ele ouve barulhos de batidas no teto da casa em que habita (…ou assombra?). Em vez de vermos a “deusa” indo ao local e investigando o ocorrido, a vemos contando ao espírito, retrospectivamente, o que ela fez fora da tela. E aí, ela conta tudo de novo, no carro, porque da primeira vez ela mentiu. Depois, o casal está de frente com o espírito, e temos uma longa explicação sobre o boneco que o espírito possuiu e por que ele faz o que faz. Daí, teríamos uma luta, mas antes, uma pausa para mais uma explicação, desta vez sobre os poderes do Kuro. Só então vemos algo acontecer na tela.

É sempre assim, mesmo?

 

 

Ayaka – A Story of Bonds and Wounds

Claramente a melhor estreia do painel, Ayaka nem chega a ser um animê sensacional, mas foi um bálsamo depois dos episódios anteriores. É uma produção original, que contou até com um recado em vídeo de um dos seus produtores. Existe, claramente, uma ambição no projeto, dos mesmos responsáveis por K, de 2012.

Talvez a ambição não tenha sido acompanhada pelo valor de produção, infelizmente. Na trama, o garoto Yukito vivia na ilha de Ayaka, e o primeiro episódio já abre com alguma catástrofe envolvendo um incêndio e lutas entre o que parecem ser sacerdotes. O garoto perde o pai e é levado para outro lugar para crescer e estudar escudado de tudo que envolve o incidente. Anos mais tarde, ele é chamado de volta à ilha e conhece um discípulo de seu pai, e também começa a entender seus próprios poderes.

Existe, ao que parece, uma ideia de criar um ambiente mágico, que até parece referenciar aqui e ali uma coisa meio Ghibli, emprestando até uns elementos de Viagem de Chihiro. Mas é uma produção um tanto básica, que não passa a sensação de maravilhamento que o animê parece querer transmitir com sua ilha e seus poderes. Tanto, que até os poderes parecem fora de lugar, com uma estética tão… normal os rodeando. 

É, também, um animê que não parece conseguir expressar muito bem qual é a sua trama (o garoto volta à ilha, e…?), mas, ao contrário de ‘Strongest Exorcist’, a ideia aqui é menos explicar o próprio “lore” e mais vender seus personagens — o que já é muito melhor. Não que eles sejam grandes personagens, mas a dinâmica entre Yukito e o discípulo beberrão de seu pai e provável irmão de criação dele até que funciona. Além disso, ao final do episódio, vemos novos personagens fazendo coisas escusas e misteriosas e temos um vislumbre de intriga que, pelo menos, cria um mínimo de expectativa para que queiramos esperar o episódio 2. 

Ayaka foi o melhor dos quatro animês que pudemos conferir. O caminho até lá foi longo. É, mesmo assim, muito curioso assistir numa telona linda e enorme do maior evento nerd do Brasil, esses “animês de temporada” normalzões que saem de baciada a cada três meses. E, considerando que vimos esses animês enquanto o Brasil sofria pra jogar contra Camarões na Copa, acho que ficou tudo bem.

 

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