Quem segue o mercado nacional de mangás há alguns anos e acompanhou a participação da JBC na CCXP22 (seja in loco ou através de coberturas, como a nossa) pode notar um clima novo no que diz respeito ao trabalho de uma das maiores editoras de mangás do país.

Pode se dizer que, entre 2017 e 2021, a editora passou por um momento de menor entusiasmo frente ao público leitor quando comparada à concorrência — sobretudo a Panini, que aumentou consideravelmente seu número de publicações no período, e, em alguma medida, a NewPOP, que embora não tenha se alçado ao status da JBC, ganhou muitos holofotes com a onda recente de light novels e mangás boys’ love. Entretanto o que parte da imprensa especializada leu como um “momento de crise” não teria respaldo nos resultados financeiros da empresa, já que a JBC aumentou o seu faturamento de 2015 e 2022 — o que nos informou a própria editora.

Considerações à parte, é possível dizer que a casa brasileira de Astro Boy dá sinais claros de que não apenas retoma o caminho do protagonismo que sempre lhe caracterizou, voltando a empolgar o público leitor com uma vasta quantidade de anúncios de bastante relevância, como também dá indícios de que pode alçar voos mais altos, e que antes pareceriam improváveis a qualquer empresa do mercado de quadrinhos.

imagem: foto de uma estante com os lançamentos da JBC

Estante de lançamentos da JBC na CCXP. | Foto: Gabriel Rigamonti/JBox

Quando da venda de 70% da editora fundada em 1995 pela família Shoji, assinei um texto com algumas expectativas para o futuro. E discordando de algumas previsões (que supunham uma guinada para publicações “alternativas”, com menos foco para os “shounens” e “seinens”, demografias mais populares do país), imaginei que, na verdade, a aquisição da JBC pelo grupo Companhia das Letras teria o objetivo de potencializar a linha editorial já estabelecida pela casa, já que não faria sentido desperdiçar um know-how consolidado ao longo de 27 anos. E parece que é mesmo o que está acontecendo.

Os primeiros movimentos deixam a estratégia muito clara: reimpressão dos principais títulos esgotados do catálogo, mesmo os mais longos como Fairy Tail, My Hero Academia e, mais recentemente, Nana; acréscimo de funcionários para diversas áreas; atuação mais forte e eficaz nas redes sociais; e integração da JBC junto às marcas da Companhia. Em suma, o aporte financeiro veio para facilitar as coisas, e não para mudá-las de direção.

Mesmo as reedições de séries consagradas publicadas no passado, que se tornaram uma espécie de pilar da editora a partir de 2012 (quando voltaram à cena Cardcaptor Sakura, Rurouni Kenshin e, dali em diante, muitos outros) permanecem como um mote editorial, e a recém anunciada Saint Seiya — Final Edition não nos deixa mentir.

 

Ainda não viu? Confira os anúncios da JBC na CCXP22

Astro Boy, de Osamu Tezuka
Fênix, de Osamu Tezuka
Fullmetal Alchemist – 20th Anniversary Book, livro comemorativo da obra de Hiromu Arakawa
Mermaid Scales And The Town of Sand, de Youko Komori
Saint Seiya — Final Edition, de Masami Kurumada
The Fable, de Katsuhisa Minami
Zom 100: Bucket List of the Dead, de  Kotaro Takata e Haro Aso

imagem: foto do estande da JBC na CCXP

O chamativo estande da JBC na CCXP. | Foto: Gabriel rigamonti/JBox

Chamou a atenção a participação da JBC na CCXP22. Com um bonito estande de temática “luzes de Tóquio”, a editora teve papel de destaque no evento e foi uma das principais atrações para o público otaku, que não é exatamente o alvo da feira.

O painel da editora, apresentado na sexta (02) às 20h, contou com anúncios há muito esperados no Brasil (Astro Boy Fênix, ambos de Osamu Tezuka), além de boas surpresas, como os seinens The Fable e Zom 100: Bucket List of the Dead e o josei Mermaid Scales And The Town of Sand. Para quem conhece a JBC, são títulos bastante alinhados com o seu estilo de publicação, o que reforça a tese de que a Companhia das Letras não está interessada em interferir na escolha de licenciamentos.

imagem: foto do painel de Raoni Marqs

Raoni Marqs ensinando mangá. | Foto: Lucas Nascimento/JBox

A masterclass de Raoni Marqs, autor de BendaoraComo fazer mangá, foi outro ponto alto da atuação da JBC por ali, embora tenha sofrido com a má divulgação por parte da organização do evento (este aliás foi um dos problemas da CCXP22, e boa parte da programação foi divulgada na última hora, dias antes da Spoiler Night).

Mas surpreendente mesmo foi o acontecimento do último dia. No domingo (4), Lázaro Ramos daria uma sessão de autógrafos do seu novo livro, Você não é invisível, ilustrado por Oga Mendonça. Tratando-se de um lançamento da Objetiva, também pertencente ao grupo Companhia das Letras, era natural que o palco da ação fosse o estande da JBC, a representante do grupo na feira.

A ação, que formou uma grande fila de fãs do ator, escritor e cineasta, talvez resuma bem o que significa esse novo momento. A Companhia das Letras, através da JBC, ganha um satélite importante para se fazer presente de forma efetiva em eventos de cultura pop, tendo inclusive um ponto de venda à disposição para vender seus quadrinhos de outros selos (como o Quadrinhos da Cia.) por conta própria. E a JBC, por sua vez, ganha visibilidade inédita ao poder levar os seus produtos a espaços nos quais dificilmente se poderia penetrar sem o auxílio de uma gigante do ramo editorial (a não ser com a injeção de muito dinheiro, o que sempre foi bastante difícil para empresas “de nicho”).

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