Nem sempre as coisas acontecem como a gente planeja… ou talvez na maioria das vezes. E no mercado da cultura pop do Japão isso não é diferente. Negociações que desandaram, um passo maior que a perna, uma palavra mal colocada… os motivos podem ser muitos para que algo que foi dado como certo acabasse não acontecendo.

Na lista a seguir resgatamos seis casos, alguns aventados por aqui mesmo, que foram anunciados ao público, mas que acabaram se tornando involuntariamente um “1º de Abril”.

 

Jaspion na Netflix

imagem: foto da série Jaspion

Imagem: Divulgação/Toei

Em 25 de maio de 2015, o JBox anunciava com exclusividade que a distribuidora Sato Company havia firmado um acordo com a Netflix para a exibição de Jaspion, Changeman, Flashman, Jiban, Jiraiya e National Kid — todas séries tokusatsu antigas com passagem pela extinta Manchete e até aquele momento inéditas via streaming. Mas a coisa desandou.

A Sato foi uma das primeiras grandes “agregadoras de conteúdo” da plataforma por aqui (vale ressaltar que a distribuidora não trabalhava apenas com produções asiáticas), então o diálogo realmente existia e uma negociação teve início. Porém, tempos depois, e após nenhuma das séries mencionadas ter aparecido no catálogo, fomos atrás de algumas respostas.

Segundo palavras do próprio Nelson Sato, o dono da empresa que leva seu sobrenome, o negócio ruiu porque a Netflix teria mudado sua política quanto à exibição de produtos que não tivessem uma imagem em alta definição (até poderia ser uma velharia, mas devidamente remasterizada). A princípio a “desculpa” até faz sentido, mas se contradiz quando o mesmo serviço acabou disponibilizando o animê Street Fighter II V, que também é distribuído pela Sato e foi anunciado na mesma época da notícia dos enlatados japoneses — uma série com qualidade de imagem e áudio péssimas pra qualquer padrão mínimo.

Num puro achismo por aqui: talvez o valor cobrado por Jaspion e cia. tenha soado muito maior do que o valor dessas séries para os olhos da Netflix…

 

 

Koudelka, Berserk e Pokémon pela Conrad

imagem: ilustração de Koudelka

Koudelka. | Imagem: Reprodução

Os mais velhos devem se lembrar bem de que mangá no Brasil no começo dos anos 2000 ou era Conrad ou era JBC. A primeira saiu um pouco na frente na hora de pôr a bandeira da vanguarda, quando publicou os primeiros quadrinhos japoneses em sentido oriental nas nossas bancas (Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco).

Na época, a Conrad ainda mantinha a Herói.com.br, uma revista informativa de cultura pop que dava continuidade à publicação iniciada lá em 1995. A revista também servia para panfletar sobre os lançamentos da casa e, em certa ocasião, ousou anunciar dois títulos que nunca deram as caras pela editora: Koudelka e Berserk — que fariam companhia em 2003 a Blade – A Lâmina do Imortal, que foi efetivamente publicado de forma incompleta.

imagem: foto do anúncio da revista Herói

Anúncio da revista Herói.com.br, edição nº 41, de dezembro de 2002. | Imagem: Reprodução

A revista em questão, edição de número 41, saiu em dezembro de 2002 e, talvez não por acaso, foi simplesmente a última Herói da época. Houve até uma tentativa de ressuscitar a publicação em 2006, que só durou uma nova edição. Era uma espécie de sinal de que as coisas já não andavam tão bem dentro da editora.

O porquê dos títulos nunca terem saído do anúncio não são muito claros até hoje, mas pode ter sido o caso de uma informação precipitada (uma negociação que estava até avançada, mas que não foi fechada). Mais ou menos na mesma época, também chegou a ser mencionado pela Conrad que ela estava atrás de Pokémon Adventures (a mesma saga hoje publicada pela Panini). Em determinado ponto, a revista Pokémon Club (que era da Conrad) chegou a pedir que os próprios fãs incentivassem pedindo para que o mangá saísse de verdade.

Dessa história, apenas Koudelka ficou pro limbo, já que Berserk também ganhou anos depois a sua publicação via Panini.

 

 

Filme de Fairy Tail nos cinemas

imagem: ilustração do filme Fairy Tail Dragon Cry

Imagem: Divulgação

Se hoje estamos nos acostumando a ver cada vez mais animês nos nossos cinemas, as coisas não eram tão simples há 6 anos. Se o filme não tivesse no título “Cavaleiros do Zodíaco” ou “Dragon Ball”, ou talvez um “do mesmo estúdio de A Viagem de Chihiro“, dificilmente ele chegaria às salas do nosso país. Imagine então se o nome fosse Fairy Tail… sem chance!

Mesmo assim, em 2017 circulou uma imagem oficial da Konnichiwa Festival (grupo mexicano que distribui diversos filmes de animê naquele país e em outros países da américa hispânica) confirmando a exibição do filme Fairy Tail Dragon Cry em diversos países da América Latina, incluindo o Brasil. A exibição num geral seria pela rede de cinemas Cinépolis.

imagem: anúncio de Fairy Tail pela Konnichiwa

O anúncio do Konnichiwa Festival. | Imagem: Reprodução/Facebook

De fato, o filme foi exibido no México e em outros de nossos vizinhos sul-americanos. Mas por aqui… nada. Na época até buscamos uma explicação da Konnichiwa, mas nunca conseguimos uma resposta do que ocorreu — e ocorreria depois com outras promessas, como A Voz do Silêncio e Fate / Stay Night Heaven’s Feel, ambos anunciados para o Brasil, mas que não chegaram oficialmente aos cinemas.

Provavelmente, na hora de distribuir os longas nas nossas salas, a empresa mexicana tenha enfrentado alguma burocracia local que impediu o lançamento — algo que foi superado recentemente, já que foi essa mesma empresa que trouxe os filmes de Demon Slayer.

 

Slayers Next na Rede 21

imagem: ilustração de Slayers Next

Imagem: Divulgação

A dublagem “completa” da saga Slayers é uma incógnita até hoje não esclarecida (como quase tudo nessa matéria, abafa). Algumas revistas do começo dos anos 2000 aventaram que as três fases da série (as existentes na época, já que hoje em dia existe mais material) teriam sido dubladas para reforço do programa Band Kids, com supostas ideias até para licenciamento de produtos.

Porém, mudanças internas na Band fizeram com que os investimentos de programação infantil fossem escanteados, e Slayers foi posto na geladeira. Somente em 2003, tapando buraco nas noites da emissora, o animê enfim estreou, tendo apenas a sua primeira temporada (de 26 episódios) exibida — e substituída bizarramente por Batalha dos Planetas, uma das trocentas edições americanas do clássico Gatchaman.

No mesmo ano de 2003, Slayers seria reprisado pela Rede 21, outra emissora do grupo Bandeirantes com distribuição bem restrita pelo país, mas que tinha sinal aberto em São Paulo e Brasília naquele período. O canal mantinha em seu site uma grade de programação que mostrava os títulos dos episódios das séries que eram exibidas, e aí que mora um indício de que mais temporadas podem ter sido dubladas.

Acontece que, na semana que sucedia o final da primeira temporada, títulos de episódios inéditos (possivelmente da 2ª temporada, Slayers Next) apareceram na grade do mesmo site — infelizmente, não há registros, e essa linha aqui é baseada apenas em testemunhas oculares (incluindo quem vos escreve). Porém, o extinto site Anime Pró chegou a noticiar a estreia da nova fase pela emissora, no print que resgatamos abaixo.

Possivelmente a redação do site se baseou também nessa grade da página da Rede 21. Mas chegando o dia, o que se viu mesmo foi o início de uma reprise da primeira temporada de Slayers, fazendo com que o Anime Pró soltasse essa outra notinha abaixo.

 

As hipóteses levantadas podem ser duas: alguém alertou que aquilo era material inédito e que não cabia para ir ao ar primeiramente na Rede 21 ao invés da Band; ou então o material, embora estivesse em arquivo, simplesmente não foi dublado e não estava apto a ir ao ar. A explicação oficial seguiremos devendo.

 

 

Nana na MTV

imagem: cena de Nana

Imagem: Reprodução/Madhouse

Em março de 2011, a extinta MTV Brasil disparou um comunicado de imprensa anunciando que o animê Nana faria parte da sua grade de programação, sem dar detalhes de quando estrearia — inclusive noticiamos por aqui na época.

Ter uma animação japonesa exibida na emissora não era tanto uma novidade, já que anos antes Desert Punk e Afro Samurai tinham passado por lá (e muitos anos antes, até Speed Racer colou na programação). E Nana ainda tinha a cara da MTV, nas pautas de comportamento e musical, além de ter de fato feito parte de outras MTVs pelo mundo.

Porém, ficou tudo só na promessa. Algo deu errado na negociação e não é segredo que a herdeira do sinal da TV Tupi já andava mal das pernas financeiramente. Dois anos depois do anúncio furado de Nana, a MTV Brasil fechou as portas, devolvendo a marca para a dona americana, a Viacom — que a relançou como um canal fechado com foco em realities.

 

Jobs?

imagem: ilustração do mangá jobs

Imagem: Reprodução

Em 19 de fevereiro de 2014, publicamos por aqui o que seria um furo: Jobs, o mangá biográfio sobre o criador da Apple, feito por Mari Yamazaki (autora de Thermae Romae), seria publicado no Brasil pela JBC.

A informação surgida de uma fonte ouvida pelo JBox à época chegou até a ser uma expectativa aventada pela própria autora da obra em uma rede social pessoal. Porém, a JBC nunca confirmou o anúncio publicamente e, 9 anos depois, nada do seu Jobs aparecer.

Se a informação da fonte, divulgada por esse distinto site, estava completa ou parcialmente equivocada não sabemos, mas é possível que uma suposta negociação para a vinda desse mangá acabou não indo para além do campo das ideias. Quase uma década depois, o timing para uma publicação desse tipo também já foi perdido, com a história do homem da Apple não chamando mais tanta atenção.

 

Você lembra de mais alguma notícia furada (que não seja as promessas da Loading, pois ainda dói)? Deixe-nos recordar também nos comentários!