Fechamos a coluna Café & Matchá ano passado com uma retrospectiva do que foi 2020 em termos de mercado nacional de mangás e animês. Nada mais justo então que abrir o ano comentando as expectativas para 2021, certo? Até porque, de lá para cá, algumas notícias de peso vieram, como a entrada de My Hero Academia dublado na Loading e a “chuva” de dublagens expressas da Crunchyroll.


Como 2020 foi um ano extremamente difícil, principalmente para o mercado brasileiro num geral, muita gente está na esperança de que 2021 seja melhor. Apesar de boas novidades a vista, eu pessoalmente não acredito em nenhuma grande mudança no momento. Talvez depois da vacina… Isso se tivermos um planejamento adequado de vacinação neste ano.

O mercado de mangás provavelmente vai seguir como o maior impactado da indústria nacional de entretenimento japonês. Com uma crise sanitária, o desemprego e a renda caindo, não tem muito para onde as editoras correrem. O mercado nacional de mangás atualmente parece lutar mais para sobreviver do que qualquer outra coisa.

Capa do volume 36 de Shaman King pela JBC, custandp R$4,50.

Dá saudades desse preço, né minha filha? | Divulgação: JBC.

Com queda nas vendas, é esperada uma queda na produção. A tendência deve seguir o que 2020 veio moldando: as editoras menores vão lançar as séries mais devagar e os preços vão subir (até porque a situação atual do papel não ajuda muito). Imagino um ano com menos anúncios, mas títulos quentes e/ou requentamentos fortes, reimpressões, etc.

É definitivamente o momento de melhorar a comunicação com o público. Muitas editoras já vieram tentando acertar isso ao longo de 2020, mas algumas ainda deixam a desejar. Quem quiser o entedimento do público quanto a preços, vai ter que correr atrás (até porque, sinceramente, não é o público o culpado). Marketing digital definitivamente não é mais uma questão de escolha.

Não vai ser um ano fácil para quem publica mangá… e nem para quem compra. Uma maior aposta em publicações digitais também pode estar a caminho, como forma de driblar os problemas atuais de distribuição e ajudar um pouco nas vendas. Talvez também tenhamos novidades à vista com aquela história de Manga Plus vindo para o Brasil, quem sabe?

Já o mercado de animês parece um pouco mais motivador. Ele foi bastante movimento, extramente atípico em comparação a… bem, ao resto mundo. Provavelmente, ainda veremos mais séries grandes entrando na TV e talvez, quem sabe, essa seja uma ótima oportunidade para séries não tão grandes assim?

Temos o Toonami e a Loading trazendo novidades nas TVs paga e aberta. Dependendo do sucesso dessa empreitada (sobre o qual esta matéria talvez possa indicar algo apesar da carinha de publipost), talvez outras emissoras do mercado tenham interesse nesse tipo de conteúdo. Qualquer coisa que não seja a exibição nas coxas de Beyblade Burst Turbo na Band pode ser bem-vinda. Quais novidades esses canais nos aguardam?

A Crunchyroll passou a investir mais pesado em dublagens em modelo expresso (e isso certamente não tem nada a ver com a chegada de uma “concorrente”…), o mais próximo que conseguimos chegar do simuldub. A Funimation ainda está com o catálogo em expansão, mas também já está trazendo Attack on Titan dublado de forma meio expressa.

Lançar a plataforma já com aplicativo disponível ao menos para smartphones teria sido um primeiro passo mais acertado já que essa parece ser a principal reclamação do público, ao ponto do serviço se pronunciar a respeito.

Naruto, em Shippuden, olhando para cima.

Por favor, [insira empresa], duble Shippuden! | Reprodução: Pierrot.

Outras empresas de fora também estão ollhando para o nosso mercado com mais atenção, a VIZ trouxe Yashahime dublado, agora presente em dois serviços de streamings.

Quem sabe nessa euforia a Pluto TV não atenda aos pedidos do Twitter e dê um jeito de colocar Shippuden completo e com dublagem no canal de Naruto? Ou a Aniplex resolva investir em dublagens também?

Sonhos à parte, tem sido uma movimentação interessante. É perceptível também o maior investimento da Netflix nas produções japonesas, fechando parcerias com estúdios e artistas, além de começar a promover “eventos de anúncios” de novos animês. Embora a divulgação dessas séries por aqui ainda seja muito fraca, para dizer o mínimo, é certo que o público otaku é visto com algum apreço pela plataforma.

Falando em divulgação, com tanta oferta chegando no mercado, as empresas também precisam melhorar a comunicação e planejamento. A Loading, por exemplo, ainda segue com problemas na programação, episódios em ordem errada, além de divulgação um tanto a desejar, mesmo considerando como um “canal novato”.

Na busca por aperfeiçoar sua comunicação com um novo público, a Funimation demonstrou entender a importância de comunicar ao público que está atenta aos feedbacks recebidos. Dificuldades iniciais eram esperadas por ser a primeira experiência da empresa com o mercado latino – a Crunchyroll também precisou de um tempo para se adaptar melhor ao cenário local. Se seguir ouvindo o público, certamente tem espaço para se estabelecer com força no mercado.

A Pluto TV, mesmo tendo diversos canais distintos, também poderia conversar um pouquinho mais com o “segmento otaku”, afinal, eles têm um canal exlusivo de animês e um canal exclusivo de um único animê, Naruto – demonstra que existe interesse nesse segmento do mercado. Por isso, talvez fosse interessante tentar mirar melhor nesse público.

Personagens de 'Um Chute no meu Diabo' discutindo na frente da TV.

Fique em casa… | Reprodução: Nomad.

Enfim, a expectativa é um forte aumento da oferta de séries transmitidas em modelo simultâneo e também da oferta de séries dubladas, inclusive em modelo expresso. Difícil prever, no entanto, quando e o quanto a compra da Crunchyroll pela Funimation vai impactar todo esse positivismo no mercado.

Monopólios não tendem a trazer benefícios ao consumidor, então certamente essa “fusão” vai trazer problemas para o mercado nacional, provavelmente colocando-o de volta à “estagnação” que sempre vivemos com o domínio da Crunchyroll sobre a oferta de séries simultâneas. No entanto, enquanto isso não ocorre e as empresas funcionam separadamente, teremos alguns vislumbres do poder concorrência.

Enfim, 2021 começa como um ano de muitas promessas, mas a vida mostra que quando a esmola é demais, o santo desconfia: ainda vamos sentir bastante o impacto negativo da pandemia. No entanto, que entre altos e baixos, possamos ver coisas boas acontecerem (provavelmente, por meio de uma tela, ainda cofinados em casa durante uma boa parte do ano).

Acredito em um ano frio, dos piores, para o mercado editorial, contrastado com um dos anos mais quentes para o mercado de animês. Uma nova bomba misturada com um novo boom, 2021 deve ser um ano de contradições. Mas vamos ver o que nos aguarda.


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