Há exatamente 1 ano, escrevi para esta coluna um texto que discorria sobre certa falta de tato da Panini ao não anunciar — numa live realizada no dia 8 de março — pelo menos um mangá que servisse de gesto ao Dia Internacional da Mulher.

Ontem, 8 de março de 2023, um ano depois do vacilo da concorrente, a JBC fez presença na já tradicional Rodada de Lives, do Fora do Plástico, perfil de grande relevância no meio dos quadrinhos, e acabou repetindo a gafe de sua concorrente.

Os anúncios de Os Gatos do LouvreDownfall foram mais que bem-vindos pelo público, além de terem sido escolhidos a dedo, considerado o perfil do seguidor do veículo que organizou a live. Mas às vezes os detalhes, por menores que sejam, comunicam muito, e não se deve desperdiçar a chance de comunicar.

A comunicação, aliás, está no nome da empresa — Japan Brazil Communication — e a JBC sempre soube trabalhar bem com esses detalhes. No outubro passado tivemos, por exemplo, uma live de halloween em que fora anunciada a coletânea Contos Macabros, de Kanako Inuki (ótima descoberta, aliás).

Um pouco mais atrás, em 2018, a editora anunciou “apenas” Rosa de Versalhes, um dos maiores clássicos da demografia shoujo, para comemorar o Dia da Mulher. Dessa vez, o marketing da JBC deixou passar.

Para fazer justiça, faço questão de elogiar o bloco reservado para falar de algumas produções como Sunny Sunny Ann! e o próprio Contos Macabros, de autoras mulheres. A discussão, muito bem conduzida pela apresentadora Mariana Viana, tocou em questões interessantes sobre as obras.

A gente sabe, contudo, que os anúncios costumam “roubar a cena” (o que é um dos problemas do nosso mercado, que enxerga nas lives um momento apenas para a divulgação de novos lançamentos, dando pouca importância para discussões de qualquer outra natureza).

E, ao mesmo tempo que tenha sido uma decisão acertadíssima, a própria preocupação de reservar um momento para falar das obras dessas autoras recém-publicadas e não deixar a data passar em branco talvez tenha gerado nos espectadores uma expectativa, como se fossem um esquenta para algo maior: o que na mentalidade média do público consumidor de hoje seria justamente um anúncio.

É curioso, no entanto, que isso tenha ocorrido justo agora, quando se observa na JBC uma abertura maior para títulos que fujam do padrão “shounen de ação”/”seinen de mistério”, dominante no mercado nacional (e no resto do globo). Os recém-lançados Boys Run the Riot Shimanami Tasogare, que, apesar de serem seinen, abordam uma temática até então pouco explorada pela editora, são a prova disso — assim como os já anunciados Doukyuusei, de temática BL, Akatsuki no Yonashoujo muito pedido pelos leitores, e o josei Mermaid Scales and the Town of Sand.

Pensando nisso, é bem provável que a JBC até tenha na manga algum título que faça aceno ao público feminino, ou que ao menos seja escrito por uma mulher. Mas ficou para outra ocasião (no dia 16, a editora fará um programa especial de aniversário).

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