Muitas décadas antes do mundo conhecer Naruto, tínhamos nada mais nada menos que um Sasuke chegando às telonas brasileiras (ou, pelo menos, algumas salas pelo país). Era esse o nome do protagonista de O Menino Mágico, que estreou por aqui em 4 de janeiro de 1962.

Jornais da época tratam a produção do estúdio Toei Animation como a primeira animação nipônica a ser lançada por aqui. Segundo o Correio Paulistano, a obra entrou em cartaz nas hoje extintas salas do Metro e Circuito, pertencentes ao estúdio MGM — que exibia seus filmes com exclusividade em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

imagem: cartaz de anúncio de O Menino Mágico pela MGM no Brasil

Anúncio do filme no jornal Correio Paulistano em 4 de janeiro de 1962. | Imagem: Reprodução

Imagem: recorte de jornal falando sobre o filme

Texto do jornal Diário da Noite do Rio de Janeiro, em 22 de janeiro de 1962. | Imagem: Reprodução/Biblioteca Nacional

Não por acaso, tratava-se de uma distribuição da própria MGM, responsável por dar o título Magic Boy, traduzido por aqui (Shounen Sarutobi Sasuke é o seu nome original). Inclusive, o longa ganhou uma dublagem em português, hoje “perdida”, que talvez nem tenha sido feita no Brasil. Em 22 de janeiro de 1962, o Diário da Noite do Rio de Janeiro destacava a estreia do filme em terras fluminenses, comentando a versão em nosso idioma e supondo que ela provavelmente teria sido realizada em Nova Iorque.

Essa prática, de dublar em português brasileiro fora do Brasil, segue existindo nos dias de hoje e é o que entusiastas de dublagem conhecem como a famosa “dublagem de Miami” — geralmente em tom pejorativo, graças à qualidade questionável de muitos dos resultados (feitos ou não em Miami, mas sempre em terras gringas). Se a versão dublada foi boa ou não, dificilmente saberemos, mas o Correio Paulistano comentava à época, em 7 de janeiro: “sua dublagem em português foi realizada satisfatoriamente”.

E o que era esse tal Menino Mágico? O filme foi o segundo longa-metragem animado da Toei Animation (na época chamada de Toei Doga), sendo lançado nos cinemas japoneses no Natal de 1959. Trata-se de uma adaptação de um personagem famoso do folclore japonês, o ninja Sarutobi Sasuke, que influenciou diversas produções ao longo das décadas, incluindo o personagem da série Naruto. Alguns anos antes do lançamento do filme, houve ao menos duas séries de mangá com o personagem, mas logo em 1960 veríamos a obra Ore wa Sarutobi da! (Eu sou Sarutobi, em tradução livre), do icônico Osamu Tezuka, pela revista Manga King.

Na produção roteirizada por Kazuo Dan acompanhamos a batalha do jovem Sasuke contra uma demônio chamada Yakusha, transformada em salamandra por um mago há milênios, para salvar o Japão e também se vingar da morte de um dos animais com quem convivia junto à irmã. A qualidade da animação para a época foi comparada a de produções da Disney (que já eram o parâmetro de comparação de “excelência”), com a mídia destacando o trabalho do diretor Akira Daikubara, que já havia trabalhado em quadros do filme anterior da Toei — A Serpente Branca, ou A Serpente Mágica, como também foi chamado por aqui. Embora omitido na divulgação, Taiji Yabushita divide a direção (ele também foi diretor em A Serpente Mágica).

imagem: ilustração de divulgação do filme

O Menino Mágico | Imagem: Divulgação/Toei

Aliás, O Menino Mágico também foi a porta de entrada da animação japonesa nos Estados Unidos. A partir dele, outras produções vieram por lá e consequentemente também por aqui. No ano seguinte, chegariam ao Brasil o já citado A Serpente Mágica (Hakujaden, primeiro filme da Toei) e também Alakazan no Reino Mágico (uma das tantas adaptações do conto que inspirou Dragon Ball) — detalhe que esses títulos em português fazem até parecer que a Toei tinha uma “franquia da magia”.

Hoje a presença do animê no cinema daqui ainda é tímida, embora tenha tenha dado largos passos com novos nomes, como o sucesso de Jujutsu Kaisen 0 e sessões mais nichadas como a de Oddtaxi, ambas lideradas pela iniciativa da Crunchyroll. Mas a sementinha foi plantada lá pela MGM, há longos 60 anos de história.

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