Num longínquo final de julho, Digimon Adventure: teve seu melhor episódio, trazendo minutos seguidos de ação quase ininterrupta onde os digiescolhidos tentavam sobreviver enquanto invadiam uma fortaleza inimiga. O formato, até então, havia sido surpreendente, empolgando do começo ao fim num estilo de narrativa pouco usual e divertido ao extremo.

Corta para o meio de novembro: a fórmula foi exaustivamente repetida e a experiência de assistir o novo animê da galerinha digital se tornou bem pouco convidativa. Penso que, dos três tipos de públicos principais que a série parece ter, dois podem concordar com isso e um não.

Mas já falo disso. Antes, um recap dos últimos episódios. Anteriormente: Mimi, Koshiro (Izzy) e Sora, após derrotarem Nidhoggmon na falsa Tóquio, são transportados de volta para o mundo real. Enquanto isso, Taichi (Tai) e Yamato (Matt) enfim encontram Leomon e seu grupo. Junto deles, se infiltram no Valvemon para impedir que sua tripulação leve uma carga especial para o lado inimigo.

Do 20 ao 24, acompanhamos uma série de fatos pós-ataque: eles descobrem que a carga, no caso, era Takeru (TK), irmãos mais novo do Yamato, que havia sido sequestrado pelo bando do Devimon para servir a seus planos escusos; Takeru se junta ao grupo e resgata o digiovo do digimon sagrado; o digiovo é roubado por SkullKnightmon; eles enfrentam sua digievolução, AxeKnightmon; depois enfrentam o próprio Devimon, que digievolui para NeoDevimon e depois para DareDevimon. Pode parecer bastante coisa quando colocado assim, em lista. Contudo, o modo como tais fatos ocorreram, o jeito que isso foi contado nos episódios, foi tão repetitivo.

Um anjo veio me falar… | Reprodução: Crunchyroll

Em suma, foi aquela fórmula de meses atrás, do episódio da invasão, sendo reutilizada novamente, e novamente, e novamente. O mesmo biscoito, mudando só o pacote (no caso, os adversários). Em todos os capítulos, os digiescolhidos entraram em confronto com um digimon vírus do mal logo no começo. Daí, a batalha se estendeu até seu fim. Nos três últimos desses cinco, com o mesmo (Devimon), mas evoluindo (NeoDevimon, depois DareDevimon). E só. Honestamente, é como se não houvessem ideias na mesa de roteiristas.

Vamos estabelecer uma comparação com a série original, de 1999. Em Digimon Adventure, sem dois pontos, existia um ar “episódico” que cola bem dentro de animês infantis. Claro, havia o digimon “principal” neles, geralmente um inimigo, que serviria de fio condutor para a narrativa. Mas as tramas não eram única e exclusivamente focadas em batalhas. Existiam, neles, histórias de começo, meio e fim envolvendo esses adversários, novos personagens que surgiam no caminho, cenários criativos, temas interessantes que contribuíam para o arco de crescimento de todos os envolvidos. Não era só os protagonistas precisando lidar com uma batalha de vida ou morte repetidas vezes.

Não que o atual Digimon Adventure:, com dois pontos, necessite seguir isso à risca. Mas a maneira atual como eles estão contando a história, acentuada pela repetição nos últimos episódios, é tão fácil de enjoar que fica difícil prender a atenção por muito tempo. É como se já soubéssemos o que vai acontecer, então não tem graça.

Enquanto Freud explica, o diabo dá os toque… | Reprodução: Crunchyroll

Ao menos, especulo eu, para dois dos três públicos que imagino que sejam os principais do animê atualmente: o de espectadores casuais, que o acompanham como acompanhariam qualquer outra animação, e o infantil, que busca uma opção semanal de entretenimento durante as exibições matutinas. O casual pelos motivos que disse: repetitivo demais, pouco criativo, se excedendo numa fórmula que perde o impacto semana a semana. Mas acho que pro infantil mesmo é até pior. Digimon Adventure: está tão desnecessariamente… pesado. É tudo tão edgy. Da fotografia escura demais à trilha sonora soturna de filme de horror. Não é condizente com o esperável de desenhos para essa faixa etária.

O que me leva ao terceiro tipo de público que imagino estar entre os principais da franquia na atualidade: o de fãs das antigas que envelheceram e esperam dela algo “adultão”. De fato, Digimon Adventure: me parece estar sendo pensado idealmente para essa galera. É tenso, é pesado, é sombrio. Só tem batalhas e não se importa em desenvolver personagens, enredo, universo ou divertir o espectador. Só podiam colocar num horário correspondente para adultos, não num domingo de manhã.

No entanto, Devimon foi derrotado e um novo espaço para aventuras se abriu agora que esse arco se fechou. Será que vem coisa boa por aí?


Comentários dos episódios 1234 e 56 e 78 e 910, 11 e 1213 e 14, 15 e 16 e 17 a 19.


Com transmissão simultânea ao Japão por aqui através da CrunchyrollDigimon Adventure: é um reboot do animê original de mesmo nome (mas sem os dois pontos), produzido pela Toei Animation, em 1999. Assista aqui.

Sinopse pela Crunchyroll:

É o ano de 2020. A Rede tornou-se algo indispensável para a vida dos humanos. Mas o que eles não sabem é que, por trás da Rede, existe um mundo de luz e trevas conhecido como o Mundo Digital, habitado pelos Digimons. Quando Taichi Yagami tenta salvar sua mãe e sua irmã, que estão a bordo de um trem desgovernado, ele entra na plataforma… e um estranho fenômeno o leva para o Mundo Digital. Ele e outros Digiescolhidos encontram seus parceiros Digimons e embarcam numa aventura em um mundo desconhecido!

O roteiro é assinado por Atsuhiro Tomioka, que já trabalhou em várias séries infantis como BuckyHamtaroSuper Onze Pokémon. No Japão, o animê substitui o horário de GeGeGe no Kitarou na FujiTV, série que se encerrou ao fim da última temporada de inverno japonesa e também foi exibida por aqui pela Crunchyroll.