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imagem: capa da crítica, com cena da Nezuko
Anime Resenha

Crítica | ‘Demon Slayer: Swordsmith Village’: Um potencial propositalmente minguado

Mesmo sendo competente, a 3ª temporada de ‘Kimetsu’ sofre com um modelo de lançamento que, apesar de rentável, traz problemas de narrativa para a série.

Chegamos ao final de mais uma temporada de Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba. Desde 2019, o animê se tornou uma experiência quase anual, com cada produção praticamente focada em cobrir apenas um arco da série. Tanto que já foi confirmada uma nova animação, para adaptação do Arco do Treinamento dos Hashira.

Apesar do lançamento espaçado dar um respiro para os animadores — ao menos daria em um mundo ideal —, talvez o grande problema atual do animê de Kimetsu no Yaiba seja justamente o jeito limitado de adaptar o conteúdo do mangá, que já não está mais em publicação desde 2020. No entanto, mesmo assim a série continua sendo um enorme sucesso, então para os responsáveis pelo animê deve valer a pena sacrificar um pouco da narrativa para manter um modelo rentável, o que eventualmente deve levar a algo do tipo “Temporada Final Parte 3” que nem acontece com Attack on Titan.

Colocando essas questões em consideração, uma temporada com vilões fracos como a do Arco da Vila dos Ferreiros pode acabar sendo apagada da mente do público, por mais competente que seja.

imagem: Tanjiro, protagonista de Demon Slayer, meditando.

Reprodução: ufotable/Crunchyroll.

O Arco da Vila dos Ferreiros é um ponto interessante em Kimetsu no Yaiba pela quantidade de conceitos que ele introduz para o universo da série. Além de mostrar de perto a importância da forja das espadas (apesar de ser por um breve momento), a fase também se aprofunda em alguns flashbacks que são importantes para a parte final do mangá, tanto no início quanto final da temporada, além de mostrar pela primeira vez com mais detalhes que a marca na testa de Tanjiro não é algo exclusivo do protagonista.

Durante as batalhas dessa saga, Muichiro e Kanroji conseguem um novo poder ao lutar contra os Luas Superiores: a marca dos Exterminadores de Demônios. O grande problema disso é que, apesar de ficar claro que elas são responsáveis por um aumento de poder dos personagens, não há tempo hábil dentro do animê para abordar esse conceito… um problema que poderia ser resolvido caso não houvesse uma separação do Arco do Treinamento dos Hashira, no qual a existência desse conceito é ampliada.

Claro, isso pode parecer que é mais problema de quem leu o mangá do que não, mas não me soa muito natural assistir a um shonen de lutinha que introduz um novo sistema de poder e simplesmente “ignora” que isso existe, pelo menos até o lançamento da nova fase do animê sabe-se lá quando.

imagem: Muichiro, Hashira da Névoa em Kimetsu no Yaiba, com a marca dos exterminadores de demônios.

Reprodução: ufotable/Crunchyroll.

Essa não é a primeira vez que sinto esse problema no esquema de produção da adaptação de Kimetsu no Yaiba, inclusive. Quando o filme do Arco do Trem Infinito foi lançado, foi totalmente esquisita a escolha de encerrar onde a produção terminou. Claro, um final trágico não é exatamente um final ruim, mas os acontecimentos que só foram adaptados no início da segunda temporada do animê eram de extrema importância para um aproveitamento melhor da história do filme.

Deixando um pouco essa questão de lado, o Arco da Vila dos Ferreiros é um caso curioso por si só. Apesar dele ser mais relevante apenas dentro das minúcias citadas acima e não ter os melhores exemplos de vilões, ainda assim ele é uma das partes mais bem executadas de Demon Slayer. A forma que Muichiro e Kanroji são introduzidos é muito bem feita, principalmente no caso de Muichiro que tem um desenvolvimento bem competente ao decorrer do arco, refletindo não só na sua mudança no jeito de lutar, mas também no seu jeito de agir. A relação de respeito que é criada entre ele e Tanjiro é muito tocante.

A inserção de uma espada poderosa para Tanjiro também nesse contexto funciona muito bem, ainda mais quando consideramos que ela está ligada a uma figura importante para o universo da obra. Infelizmente, semelhante ao o que acontece no caso dos poderes da marca, também essa questão também não é abordada o suficiente dentro desse arco em si, porém é algo que pesa não só na saga seguinte, mas também na final, então é mais perdoável.

imagem: boneco de treinamento Yoriichi Tipo Zero durante uma luta com Tanjiro.

Reprodução: ufotable/Crunchyroll.

Algo que ajuda bastante na execução do anime é a direção. Em nenhum momento ela foi um exemplo de criatividade, porém é um trabalho que consegue tornar o animê em algo bastante “marketável”, caindo facilmente nas graças do público. Claro, muito se deve também à simplicidade do mangá original que consegue atrair o público, mas a direção por muitas vezes consegue guiar bem o animê para aquilo que o público quer ver. E esse trabalho no Arco da Vila dos Ferreiros talvez tenha sido o melhor até aqui, já que conseguiu manter um nível de atenção do público semelhante à fase anterior da série que é, objetivamente, muito melhor em roteiro.

Olhando para outros aspectos, uma coisa que senti que faltou um pouco para dar um brilho maior para a temporada recém-finalizada foi um espetáculo visual semelhante aos arcos anteriores. Apesar de ter cenas caprichadas, o grande destaque visual desse arco não foi durante nenhuma luta, mas sim na reunião de Muzan com os Luas Superiores que aconteceu logo no início do animê.

Tudo ali estava caprichadíssimo e criou a atmosfera ideal para algo tão importante, no entanto fez um pouco de falta algo que desse naipe também durante as cenas de ação. Não ajuda que a luta mais dinâmica do arco necessitou fazer um uso pesadíssimo de animação em CG que, apesar de não estar necessariamente ruim, ainda não era dos melhores (algo que infelizmente perdura por todo o animê de Kimetsu no Yaiba).

imagem: Muzan, grande vilão de Demon Slayer.

Reprodução: ufotable/Crunchyroll..

Mesmo com problemas, o Arco da Vila dos Ferreiros não deixa de ser uma boa experiência. O fato dele contar com uma presença mais forte de Nezuko faz com que a cena final da temporada tenha ainda mais impacto, além de que essa fase também consegue se desvencilhar um pouco da imagem do “trio clássico” que Tanjiro fazia com Zenitsu e Inosuke ao introduzir a presença de Genya. Dentro da fórmula de usar Hashiras diferentes para cada arco, essa fase é a que melhor usa isso a seu favor com a abordagem feita com Muichiro, apesar de que com Kanroji deixa a desejar em alguns aspectos (mas não se preocupem, haverá mais dela no futuro!).

Com o anúncio de um novo animê, estamos cada vez mais próximos do final da série (dependendo do quão espaçado será o lançamento dos novos arcos). Apesar dos contrapontos, o Arco da Vila dos Ferreiros ainda é uma das melhores experiências que Kimetsu no Yaiba proporciona, mas também é uma das últimas partes de fato cativantes da obra. Sendo assim, é melhor degustar com vontade o que o animê tem a oferecer por enquanto para guardar com carinho as memórias sobre a série.


Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba está disponível na Crunchyroll com opção de legendas (completo) e dublagem em português (até a segunda temporada). A plataforma fornece um acesso ao JBox.


O texto presente neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.

Imagem: Tanjiro Kamado em 'Montanha Natagumo'.

Sobre Demon Slayer

A trama de Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba se passa no Japão do período Taisho e apresenta a história de Tanjiro Kamado, um garoto de bom coração que vendia carvão para sobreviver, até o dia que seus pais foram cruelmente assassinados por um demônio, que também amaldiçoou sua irmã mais nova, transformando-a num demônio.

Embora devastado com tudo que lhe aconteceu, Tanjiro decide tornar-se um “matador de demônios,” procurando aquele que massacrou sua família, enquanto também tenta encontrar um meio para que sua irmã volte a ser humana novamente.

O mangá de autoria de Koyoharu Gotoge, agora prestigiada até pela revista Time, foi publicado na Shonen Jump entre 2016 e 2020, com 23 volumes encadernados no total. A Panini publica a obra no Brasil. A série foi um fenômeno de vendas em 2019 e já possui mais de 150 milhões de cópias em circulação.

A versão em animê tem produção do estúdio Ufotable, e é exibida oficialmente no Brasil, até agora, via streaming pela Crunchyroll, com legendas em português, e pela Funimation e Netflix com opção dublada. O filme continuando a série estreou em 16 de outubro de 2020 no Japão, batendo inúmeros recordes, chegando aos cinemas brasileiros em maio de 2021.

No final de 2021, o filme Mugen Train foi exibido nas TVs japonesas, com simulcast no Brasil, em formato episódico. No começo de 2022, a segunda temporada foi ao ar — a série inteira está dublada na Crunchyroll.

14 respostas para “Crítica | ‘Demon Slayer: Swordsmith Village’: Um potencial propositalmente minguado”

  1. Buddha disse:

    Demon slayer não tem uma história inovadora tendo uma premissa “minguada” por assim dizer, porém é bastante satisfatório assistir principalmente pela bela animação da obra é certos personagens carismáticos que carregam a obra.

  2. edustarman disse:

    Precisam de dois Hashiras para dar o carisma natural de Uzui, que é um personagem extravagante, ou você ama ou odeia, a Lua superior 6 é muito mais cativante que a 4 e a 5 juntas, pois Daki e Gyutaro é uma mistura deliciosa de se ver, já Gyokko e Hantengu é bem sem sal, com Gyokko não temos nenhum background e o Hantengu é só um vagabundo que Muzan recrutou no meio do caminho, eles não traz diferencial nenhum, a falta de Zenitsu e Inosuke é palpável, não temos alívios cômicos de qualidade, Kotetsu e Haganezuka até tentam, mas não conseguem, temos a introdução de dois personagens Muichiro e Kanroji, e temos o Genya, literalmente o esquecido do churrasco, mesmo com uma habilidade muito útil, contudo é um personagem difícil de engolir, porque ele é carrancudo e não tem tanta habilidade para fazer valer a carranca, o Muichiro se desenvolve tendo um background muito bem explorado e emocionante, já o drama da Kanroji em não aceitar uma vida falsa e continuar sendo quem ela é, também é impactante, contudo não tão emocionante como o de Muichiro, por fim temos lutas maravilhosas com texturas com qualidade ufotable que dentro do orçamento e do cronograma da temporada entregaram um trabalho de qualidade, que não deixou a desejar em relação as demais, contudo com dito na crítica essa temporada não tem os ingredientes necessários para por si só possuir um enredo envolvente como a temporada anterior, não temos vilões a altura, de longe foi o que mais prejudicou esse arco, tanto que para quem não acompanha o mangá foi totalmente repentina, e o burst de poder de Tanjiro; Muchiro e Kanroji foi quase um ex machina, sendo desenvolvido só posteriormente, eu torço para que o intervalo entre a vila dos ferreiros e treinamento hashira não seja muito longa, e por favor que não se profetize a maldição Shingeki no Kyojin com Temporada Final; Temporada Final Parte 2; Temporada Final parte 3, Temporada Final agora é de verdade, e Temporada Final agora acabou, esse arco de treinamento poderia muito bem ser resumido em 4 episódios 5 no máximo, vamos ver como isso será adaptado, bom essa é a minha opinião.

  3. Thiago Hipólito Migliardi disse:

    Única análise sóbria que li até agora. Parabéns pelo texto! Em outras mídias, só vejo reclamação (muitas delas sobre os flashbacks, o que eu acho um absurdo achar ruim). A receita de Demon Slayer está nos seus personagens que são extremamente cativantes. Por isso o flashback de cada um é muito importante (até dos vilões, obviamente). Some isso com uma animação de primeira qualidade e uma trilha sonora incrível…Pronto! Sucesso!

  4. Franx disse:

    Finalmente uma literalmente analise sóbria pegando os pontos bons e ruins e não apenas um lado.

  5. Henrique Padula disse:

    Eu não li o mangá até esse arco, então posso estar falando bosta aqui
    Mas vendo a temporada, eu tive a impressão que esse arco nem era tão longo no mangá, mas eles deram uma estendida considerável para transformar em uma temporada inteira, o que gerou sérios problemas de pacing
    Com o episódio final eu diria que o saldo foi até que positivo, mas a temporada num geral foi bem inferior a anterior
    Pra ser sincero, eu tive essa impressão de estenderem na temporada anterior também, mas não pesou pra mim porque o carisma dos vilões e do Hashira do Som seguraram muito bem a história, mas essa temporada os vilões eram bem menos interessantes (na real nada interessantes) e os hashiras foram só ok

  6. Talles Queiroz disse:

    Também torço pra que essa maldição não caia em Kimetsu. Acho que o ideal seria separar a última temporada em no máximo duas partes, mas considerando que o último arco é um tanto longo só me resta temer.

  7. Talles Queiroz disse:

    Obrigado!

    Acho que os flashbacks são essenciais pra Kimetsu, ainda mais porque é onde ele cria a história. Tirando isso seria só luta atrás de luta sem muito conteúdo.

  8. Talles Queiroz disse:

    Realmente não é algo de agora. O anime conta com umas boas alongadas desde a primeira temporada. Em alguns casos funcionou bem, em outros não muito.

  9. Samuel Brayan Da Silva Marques disse:

    Quero aqui dar meus Parabéns para a pessoa que fez essa análise do site Jbox e a este usuário Edustarman por sua análise também!

  10. Ayron disse:

    Enfim um lugar em que apenas elogiam essa temporada ridiculamente fraca dessa obra, eles tinham muito potencial de melhorarem o mangá e explicar as coisas melhor, mas apenas pularam isso (as marcas) e tentaram encher o final de drama. Fora a luta da mitsuri que de longe foi a pior luta da obra até agora, o povo falava tanto que a hashira do amor iria ser o destaque, engano deles, engoliram a língua pois o estúdio fez justamente o contrário, ela lutou por um episódio, botaram flashback e dps pularam para o lua superior desaparecendo que nem fumaça.

  11. Ayron disse:

    O anime serve justamente para prolongar e deixar as coisas melhores, discordo da sua opinião pois ainda sim foi muito rushado.

  12. Ayron disse:

    O problema não é o flashback e sim o momento que acrescentam ele, atrapalha toda a emoção do momento, criticam com razão pois essa temporada foi preguiçosa.

  13. Bully Maguire #macmi disse:

    Concordo, apresentar a Mitsuri personagem como forte e depois encerrá-la como princesa a ser salva não tem sentido narrativo algum.

  14. Bully Maguire #macmi disse:

    O problema que eu vejo ali é que os personagens que são do bem (hashiras) não interagem muito entre si. Se você olhar HxH, os hunters lutam contra vilões mas também lutam entre si, se aliam, traem. Tem diferentes filosofias, maneiras etc.

    No Naruto é mesma coisa, os personagens tem uma dinâmica entre eles, se unem, disputam, fazem técnicas conjuntas. Tem uma estratégia.

    No Kimetsu não tem nada disso, é unidimensional. Só existe uma dimensão em Kimetsu (bem x mal) e pelo que eu vi até agora no anime, repete a estrutura narrativa.

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