A temporada de verão de 2023 brindou os otakus com uma produção não incomum, porém levemente inusitada: um spin off de fantasia de Love Live! Sunshine!!, chamado Yohane the Parhelion: Sunshine in the Mirror (Genjitsu no Yohane).

Com as nove integrantes do grupo Aquors como núcleo principal, o animê poderia ser definido como uma fanfic que mistura elementos de A Morgadinha dos Canaviais, os episódios de piquenique de Cardcaptor Sakura e um cenário de fantasia de um animê de fantasia com roteiro de RPG que absolutamente ninguém lembraria o nome quando acabasse.

imagem: yohane em paisagem urbana.

Reprodução: BNF/Sunrise.

A protagonista é Yohane — teimosa, voluntariosa e um grande desejo de ser cantora, ela se muda aos 14 anos para a capital Tokai para tentar seu grande sonho. Entretanto, passados dois anos de sua partida, ainda não foi capaz de se tornar uma cantora famosa e, após falhar em uma audição, se vê forçada a retornar para sua cidade natal, a rural Numazu. De volta a sua casa, Yohane, que detesta o interior, se vê numa jornada de autoconhecimento a fim de entender sua vocação, o que é importante para ela e seu lugar no mundo.

No que diz respeito à parte mais “técnica”, não há do que reclamar. O visual e o design das personagens é bonito, o CGI dos números musicais não é esquisito, algumas das músicas são boas e a atriz de voz da protagonista é definitivamente uma ótima cantora. Yohane the Parhelion com certeza está fora da lista de animês que fazem os olhos doer.

O enredo não é muito ambicioso, trata-se de uma história de fazer amigos e aprender a amar a terra natal. Porém, em paralelo há também um “mal” rodeando a cidade — lembre-se que a ambientação é num mundo de fantasia — e que só Yohane vai poder derrotar (isso fica absolutamente claro desde o primeiro episódio).

De uma certa forma, acabam misturando um “garotas sendo amigas e sorrindo juntas” com um “precisamos defender a cidade do mal”, com direito a luta com traje de heroína e tudo. Acontece que, como a essência da história é fazer amigos, mais ou menos na metade do animê a parte de fantasia se torna quase desnecessária.

Além disso, como a personagem precisa aprender a amar a sua cidade — já que o apego à terra natal é algo muito importante para os japoneses — quase todo episódio tem um discurso motivacional sobre a amar a profissão que se tem, amar Numazu ou ter aprendido algo observando alguém se dedicar ao que gosta.

imagem: Lailipse e Yohane.

Reprodução: BNF/Sunrise.

Quanto às personagens, em sua maioria, elas têm personalidades dadas: essa é a chefe do gabinete que é formal, aquela é a que entrega cartas, a outra é a que gosta do mar e conserta coisas.

Com exceção da protagonista, somente mais três personagens têm outra faceta, e uma delas é uma cachorra — inclusive, Lailipse, a cachorra, é a personagem mais legal. Porém, essa coisa da personalidade dada que emula quase uma dinâmica de NPC de RPG faz com que, exceto se você gostar da personagem pelo design ou pelo modo de falar, não parecer ter muito outras características para gerar um apego.

A Yohane, por sua vez, tem um bom desenvolvimento. Ela é bem chata no começo, mas ela realmente vai aos poucos se tornando uma pessoa diferente. Entretanto, mesmo com seu desenvolvimento e sendo uma falha em praticamente todas as atividades manuais que tenta — escape cômico recorrente no animê — ela não é o tipo de protagonista que consegue carregar uma história toda nas costas.

No geral, não é ruim, mas não demonstra nenhum carisma especial. São, basicamente, dois públicos possíveis: os fãs de Love Live!, já que o desenho é uma verdadeira fanfic da obra e faz um fanservice poderoso (às vezes “do nada” acontecem números musicais muito bonitos, parece até que você está jogando o jogo), e pessoas que gostam bastante de animês com histórias de amigas sendo amigas, levinhas e de curar o coração.

imagem: as personagens de love live em yohane.

Reprodução: BNF/Sunrise.

Se você for um desses dois tipos de pessoa, provavelmente, vai gostar bastante de Yohane the Parhelion, já que obra entrega exatamente isso. Se não for o caso, talvez não ressoe tão bem com você.

Entretanto, para sermos justos, os últimos três episódios são muito bons, principalmente o episódio 12. A relação de Yohane com a sua “irmã” Lailaps é a mais bacana do desenho inteiro, então é satisfatório ter um episódio delas… mas tem mais coisas acontecendo, é caos na cidade por todo lado. Realmente, os episódios finais são bem construídos.

O final do animê é um grande “tudo fica bem quando termina bem”, encerrando o dilema inicial da protagonista sobre como viver a vida. Enfim, quase um A Morgadinha dos Canaviais, mostrando a beleza do interior e da gentileza das pessoas.

Resumindo, Yohane the Parhelion é simples e bem executado, mas peca em (não) desenvolver um carisma especial. Mesmo assim, é uma obra que pode ser divertida para quem acompanha as meninas do Aquors ou quem está procurando por um bom e velho “animê de fazer amigos”.


Yohane foi exibido pela Crunchyroll com legendas em português de forma simultânea com o calendário japonês, e está agora disponível por completo na plataforma. A empresa fornece ao JBox um acesso à plataforma.


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